Apesar de concordarmos, em parte, com o argumento apresentado pelo PR não podemos deixar de assinalar que contrariamente ao que foi dito as medidas apontadas poderão não estar a "atender melhor as necessidades da população e da economia". Porquê?
O PR diz no seu pronunciamento, e aceitamos, que desvalorizar a moeda iria "desacelerar o investimento privado indispensável à diversificação sustentável da nossa economia".
Contudo, hoje é inegável que existe uma desaceleração do investimento privado em Angola com particular ênfase nas indústrias do sector produtivo devido a vários factores, indicados pelos próprios empresários. A saber: (1) redução do investimento público, (2) dificuldades de acesso a moeda estrangeira, (3) dívida do Estado e (4) agressiva medida de cobrança de imposto por parte da AGT - Administração Geral Tributária.
Todavia, vale recordar, que o sector do comércio a retalho (formal) parece estar a expandir-se atendendo aos recentes anúncios de abertura de novos estabelecimentos das redes Shoprite, Candando e Kero (apenas para citar os de maior dimensão).
O que é que isso nos indica? Apesar do discurso político apontar para "medidas concretas para o fomento da produção nacional", o facto de não sabermos de que produtos e produtores se tratam para um melhor acompanhamento e respectiva exigência de resultados (afinal, como nos ensina a ciência de gestão, não se gere o que não se mede), temos a assinalar que dos 10 produtos mais importados, no 1º semestre de 2017, segundo dados do Conselho Nacional de Carregadores (CNC), 7 produtos são do ramo alimentar e incluem o açúcar, óleo de palma, farinha de cereais e massas alimentares. Saíram desta lista produtos como a Cerveja de malte. Precisamos fomentar a produção alimentar.
Um processo de produção interna bem articulado deveria permitir, tendo como base os dados do CNC, Angola mudar esse quadro produzindo o que consome. Num outro fórum indicamos que isso só seria possível caso o Executivo adoptasse uma política industrial selectiva (ver http://fernandes-wanda.blogspot.com, post de 13 de Dezembro de 2015)
Uma política industrial selectiva permitiria ao Executivo intervir no processo de identificação, dentro do sector produtivo, primeiro daquelas fileiras (a nível da agricultura e indústria) que se mostrassem viáveis de a curto/médio prazo tornarem-se competitivas com forte potencial de crescimento no que toca a criação de empregos (necessários para as economias em transição), receitas e volumes também para exportação.
Dentro das fileiras com potencial de crescimento, teriam acesso ao crédito apenas os empreendedores que assumissem o compromisso de atingirem metas predefinidas (metas de emprego, receitas fiscais e volume de exportação).
Enfim, apesar de concordarmos que a política cambial ajustasse ao actual contexto, a nossa breve análise parece indicar que as medidas complementares, devido à ausência de uma certa articulação dos planos (exemplo: tratar de produzir o que mais se importa), não estão a ser tomadas e Angola poderá estar a produzir algo que não vai ajudar a reduzir essas mesmas importações. Pelo que, hoje talvez mais do que nunca, algumas das "velhas" palavras de ordem como, disciplina, disciplina, disciplina, produção, produção, produção, deveriam nortear as acções do Executivo Angolano.
*Fernandes Wanda é docente (desde 2004), investigador no Centro de Investigação Social e Económica da Faculdade de Economia, Universidade Agostinho Neto, e co-investigador num "Estudo sobre as empresas industriais e de construção e as dinâmicas de emprego em África" (entre a SOAS, Universidade de Londres e a Faculdade de Economia, UAN)