As revelações de Emílio Odebrecht sobre a relação construída com José Eduardo dos Santos constam de um relato prévio aos testemunhos entretanto prestados nos termos do acordo de delação premiada estabelecido com a Procuradoria-Geral da República (PGR) do Brasil, no âmbito da operação Lava Jato.

O documento, entregue à PGR e citado pelo portal de notícias da Globo, o G1, revela que o Presidente da República pediu à Odebrecht que apoiasse o "desenvolvimento de programas para alguns de seus ex-generais", de modo a ajudá-los a virarem empresários, "para que tivessem uma ocupação e não viessem a perturbar a estabilidade do seu Governo em Angola".

Segundo Emílio Odebrecht, dono do grupo Odebrecht, a solicitação do Chefe de Estado abriu caminho a uma série de parcerias da construtora com ex-generais, traduzidas na transferência de know-how dos brasileiros e na injecção de capital dos angolanos para concretizar o negócio.

"Essas associações, sem a menor sombra de dúvida, é um dos factores que favorecem também o tratamento diferenciado da Organização [Odebrecht] em Angola", admitiu o empresário, um dos cerca de 80 executivos e ex-dirigentes do grupo Odebrecht que aceitaram colaborar com a justiça em troca de uma redução da pena (delação premiada).

Emílio Odebrecht revelou ainda aos procuradores que não só tem acesso directo a José Eduardo dos Santos desde 1984, como faz questão de tratar pessoalmente dos seus pedidos, para além de manter encontros anuais com o Chefe de Estado angolano para fazer o ponto de situação dos projectos em curso no país e negociar novas empreitadas.

De acordo com o relato apresentado pelo ex-presidente executivo e actual presidente do Conselho de Administração da empreiteira, a influência da Odebrecht em Angola tornou-se de tal forma acentuada que as Nações Unidas pediram o seu apoio logístico para a missão que viabilizou a assinatura do acordo de paz de 1992.

As declarações de Emílio Odebrecht juntam-se aos testemunhos que envolvem o ex-Presidente Lula da Silva no favorecimento dos negócios de um sobrinho, e no alargamento da linha de crédito para Angola do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES), para beneficiar os projectos da construtora.

Recentemente, foi também notícia o facto de um ex-gestor da construtora brasileira Odebrecht ter afirmado, em depoimento à procuradoria brasileira, que o grupo pagou uma comissão de 20 milhões de dólares a um ministro angolano, cujo nome não foi revelado.

Na mira da investigação Lava Jato está também uma negociação entre a Petrobras e uma empresa do general João Baptista de Matos, ex-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, por suspeitas de corrupção, que envolvem o lançamento de um projecto de bio combustível em Cabo Verde.