Isso, em nosso entender, representa uma enorme oportunidade (em termos de potencial da força de trabalho) mas também pode tornar-se uma ameaça. De facto, o relatório destaca que apesar de ter tido 10 das 25 economias que mais cresceram no mundo entre 2004 e 2014, sendo Angola a segunda na lista africana com 9.9% de crescimento anual do PIB, África tinha em 2015 mais de 30 milhões de jovens desempregados.

A nível do sector da Educação, o relatório assinala que apesar da população africana estar melhor educada, isto é, ter atingido um nível de instrução superior ao registado em períodos anteriores, nomeadamente após as independências, o facto é que ainda assim as taxas de desemprego mantiveram-se altas. Porquê?

O relatório apresenta alguns dados que nos podem ajudar a perceber essa situação. O facto de apenas cinco países africanos terem tido no período de 2006-2014 um crescimento anual do PIB da Indústria Transformadora acima dos 10% pode ajudar a explicar, em parte, esse fenómeno.

Num outro fórum, indicámos que o sector da Indústria Transformadora gera o que se denomina economia de escala e facilita as interligações sectoriais.

África tem que se industrializar para criar empregos e desenvolver a montante o sector da agricultura e a jusante o sector de serviços.

O crescimento verificado em África foi impulsionado pelo aumento do preço das matérias-primas que predominam nas exportações do continente, e não gerou empregos suficientes para a juventude.

Como consequência, deste crescimento sem empregos, verifica-se hoje um aumento da violência (religiosa extremista e não só) em países como a Nigéria, República Democrática do Congo, Sudão, Camarões, e fala-se mesmo num certo retrocesso nos processos democráticos a nível do continente.

Em Luanda, verificamos um aumento da criminalidade. Os jovens mais qualificados, e não só, optam por emigrar para outras partes do mundo. África está no ponto de inflexão!

Tendo Angola uma população maioritariamente jovem, não pode o Executivo ficar alheio aos dados acima apresentados, devendo para tal, em nosso entender, assegurar que os projectos de desenvolvimento sejam priorizados a nível dos empregos a gerar (para a juventude), receitas fiscais (para haver mais para investir em outros sectores) e volumes de produção (substituindo as importações e promovendo as exportações).

Angola, contrariamente à política de disponibilização de kits de auto-emprego, precisa de rapidamente adoptar uma política industrial selectiva por formas a dinamizar aquelas indústrias intensivas em mão-de-obra (ex.: indústria têxtil e confecções, alimentar) capazes de proporcionar a sua população mais jovem uma melhor perspectiva de vida através de um emprego sustentável no sector formal da economia.

De facto, esse parece ser o caminho, como nos indica o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial elaborado pelo Banco Mundial em 2013 e que pela primeira vez aborda a questão do emprego. Neste relatório vemos que a medida que os países se desenvolvem o auto-emprego reduz e aumenta o emprego assalariado. O Executivo não pode desejar para Angola o caminho inverso!

Nas nossas reflexões sobre as políticas de desenvolvimento em Angola (Ver http://fernandes-wanda.blogspot.com/ entrada do dia 1 de Março de 2015) temos assinalado que tem faltado uma melhor coordenação dos projectos de desenvolvimento e permanece a ausência de informação sistemática dos resultados desses mesmos projectos. Exemplo (1) a reabilitação da indústria têxtil e de confecções deveria ser precedida pela retomada da plantação do algodão em pequena, média e larga escala. Exemplo (2) antes era possível termos os dados dos investimentos privados (nacionais e estrangeiros) aprovados pela ex-ANIP mensalmente e anualmente. Hoje com a descentralização e falta de concentração dos dados não se consegue ter a mesma informação com a mesma rapidez, impossibilitando a execução de estudos sobre as tendências sectoriais desse mesmo investimento.

À luz das próximas eleições que acabam de ser convocadas vamos agora esperar para ver as propostas que os partidos políticos nacionais irão apresentar nos seus programas de governação.

Contudo, independentemente de quem venha a ganhar e governar o repto será o mesmo, isto é, fazer com que essa juventude se transforme no motor do desenvolvimento, ou manter o status quo e vê-la transformar-se numa enorme ameaça. Está lançado o desafio!

*Fernandes Wanda é docente (desde 2004), investigador no Centro de Investigação Social e Económica da Faculdade de Economia, Universidade Agostinho Neto, e co-investigador num "Estudo sobre as empresas industriais e de construção e as dinâmicas de emprego em África" (entre a SOAS, Universidade de Londres e a Faculdade de Economia, UAN)