O alerta foi lançado hoje pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e, como o Novo Jornal online vem noticiando, esta é uma das pragas de lagarta militar, da espécie spodoptera com mais potencial devastador em muitas décadas no continente africano e pode, como já está a dar sinais disso, constituir um risco elevado de comprometimento da segurança alimentar da sub-região austral do continente.

Em países como a Namíbia ou o Zimbabué esta praga é já considerada responsável por limitações preocupantes de acesso à alimentação por parte das populações onde a agricultura de subsistência é mais vincada, e as suas consequências levaram à criação de equipas multissectoriais e multinacionais para procurar interromper esta marcha gigantesca, provavelmente iniciada na África do Sul, através do continente.

Citado em relatórios da FAO, um dos seus especialistas, Joyce Mulila Mitti, mostra alguma admiração ao constatar que "até Angola está a ser atingida" pela praga, deixando a ideia de que mesmos os técnicos e as equipas no terreno consideravam esta extensão do avanço da lagarta militar como fora dos seus prognósticos, apesar de já se encontrar há meses nos a países vizinhos.

O avanço da infestação está a ser feito a partir do Sul e do Leste, através da extensa geografia constituída pela Namíbia, Botsuana, Zimbabué e Zâmbia, embora os trilhos utilizados não tenham ainda um mapa claramente definido pelos técnicos que a ONU e os países atingidos têm na frente de batalha contra este "exército" de lagarta militar.

Esta praga está a assumir contornos graves porque, ao contrário do que era relativamente normal em anos anteriores, em vez de unicamente constituída pela conhecida lagarta africana deste tipo, a Spodoptera exempta, agora ocorre, como vêem alertando as equipas técnicas, uma combinação rara ou nunca vista, com a sua prima americana, a Spodoptera frugiperda, o que lhe permite mais resistência aos químicos utilizados bem como a eventuais consições climatéricas impróprias para a espécie nativa.

Um dos problemas desta lagarta é que se comporta, e daí o seu nome comum, como um verdadeiro exército invasor, dizimando as culturas ou vegetação selvagem e, quando o alimento escasseia, põe-se em marcha em grupos alinhados num formato militar até que surja novo campo agrícola para ser devorado, como parecem ser os milhares de hectares que estão a ser dizimados na Huíla.

Huíla, porta de entrada em Angola

A província da Huíla, segundo a FAO, nomeadamente nas áreas onde o cultivo de milho é mais importante, está a ser a porta de entrada da praga em Angola e, tal como nos outros países, até agora sem sucesso visível, esta agência da ONU integrou equipas com elementos indicados pelo Governo para, no terreno, procurar a "arma" que permita derrotar este exército invasor oriundo do Sul.

A FAO estima que cerca de 19 mil hectares foram já tomados de assalto pela praga em território angolano, nomeadamente lavras de milho, embora existam outras culturas igualmente atingidas.

Os prejuízos até agora apurados já se abeiram dos dois milhões de dólares.

Recorde-se que os países agora afectados por esta invasão foram também alguns dos mais afectados pela prolongada seca dos últimos anos, que gerou uma das mais graves crises alimentares na África Austral em 35 anos.

E, quando a seca, depois de a actual época das chuvas se ter revelado muito mais benéfica, eis que, atrás da bonança chega a provável tragédia com esta praga de lagartas que se alimentam essencialmente de culturas agrícolas.

O impacto que esta pode ter em Angola só será possível de verificar de forma aproximada nos próximos dias ou semanas, mas, se a comparação for com os vizinhos Namíbia e Zimbabué, o risco de se tornar num problema sério é elevado.

Um exemplo disso é que, para além da escassez de alimentos nas populações locais, esta praga levou ainda a que muitos destes países vissem as suas exportações de produtos agrícolas proibidas.

Depois de vastas experiências para procurar a arma mais eficaz contra esta combinação america-africana da larva Spodoptera, com muitos dos químicos comummente utilizados a falharem, os especialistas avançam agora que a melhor solução é encontrar o avanço da peste na sua fase mais preliminar, onde a lagarta se mostra menos combativa face aos métodos de combate químico.

A FAO adverte ainda que, devido à facilidade de progressão desta lagarta, algumas regiões da Ásia e do Mediterrâneo não estão livres de, em alguns anos, poderem ser também invadidas.