Existe entre a nova geração de governantes gente com o cérebro oleado com plasticina. Porventura melhor preparada do ponto de vista académico do que "A Geração da Utopia", balbucia na defesa das suas teses.

É uma franja de rapazes desprovidos de valores e de princípios. Os seus valores e princípios são quilometrados agora apenas pela máquina de calcular.

Sem massa crítica, não conseguem abrir mão do auxílio do seu inseparável e miserável ajudante de campo: a subserviência mental.

Não os desdenhemos, porém. Porque, como diz Vasco Pulido Valente, "há nisso um bom propósito". E qual é esse propósito? Aquele investigador reformado do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa explica:

"Sendo o "militante" de carreira uma espécie de funcionário público do partido, tenderá sempre a obedecer ao chefe do momento, por puro interesse pessoal, pondo de parte qualquer convicção que lhe aconteça ter. E como a obediência assenta mais facilmente aos medíocres, os partidos acabam pouco a pouco por se transformarem num bando de papagaios (...) cujo talento ( se algum) se exprime principalmente na intriga."

Talentosos candidatos a governantes, esses funcionários partidários apressam-se assim a transportar na mochila "curriculuns" sofisticados mas não se conseguem impor como líderes.

A falta de liderança é, provavelmente, uma das maiores pragas do nosso deserto político. Não admira assim que, vegetando num oceano de vacuidades, a maioria dos nossos políticos se apresente sem opinião própria para nada.

Mais preocupados com a forma ( de se exibirem) do que com o conteúdo (de exporem as suas ideias), afogam-se nos dicionários de Lugares-Comuns. Parte substantiva do seu folclórico património intelectual repousa merecidamente nestes desprezíveis repositórios de vulgaridades.

Por aqui é fácil ver que têm pela frente um futuro radioso. Vão longe. Nem imaginam quanta inveja geram entre os cidadãos que pugnam em voz alta pela liberdade de pensamento e de expressão!

Perante os microfones, a tremedeira é arrepiante e de caneta em punho não escondem a sua vocação para adormecerem na espreguiçadeira.

Entre os integrantes dessa geração - não todos - despontam "novos talentos" de fraque e lacinho na lapela, que transportam entre os dedos da mão luxuosas Mont Blanc, que representam um fardo pesado de que se querem rapidamente livrar.

Aos primeiros exercícios de escrita para tentarem redigir uma redacçãozita, vê-se logo que não conseguem disfarçar o pavor que têm das letras, como se estas lhes atrofiassem o cérebro. Aqui está, em carne viva, uma nova espécie de fraude.

Como ninguém sabe o que essa gente pensa pela própria cabeça, a maioria dos dirigentes dos nossos partidos políticos aparece na montra com a língua de fora infectada por um terrível vírus: a propaganda.

E não basta, neste aspecto, dizer que essa gente não sabe lidar com a informação. Pior do que isso, consegue ter a proeza de ir mais longe. Ninguém a trava e, por isso, não se importa, ufana, de cultivar no vazio.

(Pode ler a opinião integral de Gustavo Costa na edição nº 480, nas bancas, ou em digital, que pode pagar no Multicaixa)