Para além do efeito legal de mais um partido juntar-se à coligação, esta adesão poderá implicar uma reorientação da intervenção da terceira maior formação política do país para o voto urbano. Duas notas ocorrem- -nos para já: a primeira decorre do facto de o Bloco Democrático possuir um grande número de quadros técnicos de qualidade reconhecida pela sociedade, algo de que mais nenhum partido da oposição, incluindo a própria CASA-CE, se pode gabar. Muitas dessas reservas decorrem também da fraca qualidade das intervenções públicas de algumas das figuras de segunda e terceira linhas da oposição, ou ainda o permanente discurso de "bota-abaixo" e a crítica ostensiva ao programa do MPLA em detrimento da apresentação de alternativas e propostas para a solucionar os problemas. O Bloco Democrático é o único partido a que não se atribui esse "rótulo da falta de quadros competentes e com esse "casamento", empresta à CASA-CE condições para que este se possa apresentar com real capacidade governativa. Assim, correcta ou incorrectamente, criou-se na sociedade a ideia de que os partidos da oposição não possuem quadros com qualidade em suficiente para dirigir o país e esse pré- -condicionamento leva a que a noção de voto útil se restrinja ao MPLA e a UNITA, como ainda recentemente afirmou o vice- -presidente do segundo maior partido, Raul Danda. Com este acordo político, a CASA pode intrometer-se nesse restrito grupo de formações com apetência pelo poder. Pode igualmente esbater o velho receio de que uma eventual vitória da oposição conduziria o país a um retrocesso equiparado aos primeiros anos da nossa independência.

(A crónica de Ismael Mateus "Democracia e Cidadania" pode ser lida integralmente na edição nº 480 do Novo Jornal, nas bancas, ou em digital, cuja assinatura pode ser paga no Mulicaixa)