De entre as pessoas em dificuldades por causa da escassez de chuva, especialmente nas províncias da Huíla, Cunene, Kuando Kubango e Namibe, estão 756 mil crianças, a quem o Unicef, organismos do Estado e outras agências das Nações Unidas procuram ajudar através da criação de pontos de água seguros nas áreas mais afectadas pela seca ou com internamentos para as situações mais graves, como sucedeu com mais de 3 700 crianças oriundas destas áreas.

Também na lista das preocupações da ONU, segundo o relatório de Abril do UNOCHA, estão os focos de cólera registados em algumas províncias, com destaque para o Zaire e Cabinda, após as intensas chuvas que se seguiram a longos meses de seca, sendo distribuídos materiais de protecção, como comprimidos desinfectantes, ou através de campanhas de sensibilização.

Traduzida por números, a situação em Angola aos olhos do Unicef apresenta-se com 1,42 milhões de pessoas afectadas pela seca severa que o fenómeno climático global El Nino está a manter na parte Austral de África, sendo que 756 mil são crianças, das quais mais de 95 mil com evidências de malnutrição profunda. Há ainda 393 casos de cólera em três províncias: Zaire, Cabinda e Luanda.

Os efeitos da seca nas províncias do sul de Angola são a fonte das maiores preocupações do Unicef, onde, lembra o UNOCHA, o El Nino foi responsável por perdas na produção agrícola, base dos sustento de milhões de pessoas nestas regiões, na ordem dos 90 por cento, resultando em mais de 800 mil pessoas com insegurança alimentar, malnutrição com taxas quase 4 por cento superiores ao resto do país.

De acordo com este escritório da ONU, um dos problemas mais evidentes é o elevado número de poços inutilizados devido à falta de manutenção e de peças para as bombas manuais ou motorizadas para puxar água, o que obriga as pessoas a beberem água de má qualidade, resultando daí um elevado número de casos de diarreia e outras doenças provenientes do consumo de água infectada, muitas vezes em locais partilhados com animais.

O Unicef chama ainda a atenção para o facto de a seca e as chuvadas intensas e repentinas estarem a exacerbar os movimentos migratórios, incluindo para os países vizinhos, como a Namíbia, sublinhando que existem preocupações com os possíveis abusos sobre as crianças nestes cenários, inclusive sexuais ou ausências prolongadas na escola.

Recorde-se que a par deste cenário no Sul, Angola depara-se ainda com o crescente problema na Lunda Norte, devido ao fluxo de refugiados provenientes da violência que graça na província do Kasai, na RD Congo, onde também estão as agências da ONU, inclu8indo o Unicef.