O país assustou-se. Gostaria agora que o país não voltasse a estar perante novos sustos. Sobretudo disparados com tão macabra intenção por gente que pretende ver transformada em realidade um mórbido desejo.

O susto que desta vez varreu o país está ligado com o estado de saúde do Presidente e tem a sua raiz assente na flagrante falta de comunicação à volta das razões que o levaram a Barcelona.

Estamos não apenas diante de um acto de omissão e de autocensura informativas, mas - o que é mais grave - perante a sobreposição de um falso segredo sobre uma matéria que, antes de mais, é de interesse público.

Dir-me-ão que se tratou de uma imposição dos serviços de inteligência. Ora, na gestão de um caso desta natureza, esses serviços não obedecem ao poder político?

Sendo José Eduardo dos Santos Presidente de todos os angolanos, convenhamos que a falta de sincronização entre aqueles dois poderes acabou por ter servido de pasto à proliferação de um perigoso vendaval de boatos e especulações.

Já aqui escrevi sobre a utilidade das plataformas digitais como um espaço autónomo incontornável, "muito além do controlo dos governos e das empresas".

Esse espaço, nascido pela ausência de lideranças, como explica o espanhol Manuel Castells, Professor da Universidade do Sul da Califórnia, Los Angeles, tem o mérito de se insurgir contra " a humilhação provocada pelo cinismo e arrogância das pessoas do poder" e "uniu aqueles que transformaram o medo em indignação e a indignação em esperança".

Mas o que foi despejado na semana passada nas redes sociais a respeito do estado de saúde do Presidente acabou por colocar milhares de pessoas, dominadas pela "vertigem digital", reféns da perversão das suas misérias.

Alguns, os idiotas a que se referiu Umberto Eco, tudo devoram e tudo partilham. Caem dia sim, dia não no engodo do "pós verdade", ou seja, "o que aparenta ser verdade é mais importante do que a própria verdade".

É claro que se pode legitimamente discordar de muitas das políticas e opções pessoais do Presidente na governação do país, mas não deixa de ser repulsivo ver democratas de pacotilha pressagiarem, triunfantes, a sua morte. (...)

(A crónica integral de Gustavo Costa pode ser lida na edição semanal do Novo Jornal nº 483 ou em digital, cuja assinatura pode ser paga no Multicaixa)