Não se tratou de um debate fácil, já que muitas pessoas participaram do princípio de que os partidos políticos não devem apresentar nomes e caras antes de ganharem eleições. Outros defenderam a ideia de que a apresentação de nomes não implica necessariamente a nomeação ou a apresentação de membros do futuro governo, mas tão-somente a indicação de pessoas que emprestam a sua reputação técnica para dar mais credibilidade ao programa partidário. Com os seus programas, os partidos deveriam apresentar as pessoas de perfil técnico, pragmáticas e ligadas a cada um dos sectores e que seriam assim os selos de garantia técnica de tais promessas. Não basta prometer no atado do programa de governo. É preciso que sectorialmente alguém venha dar a cara pelas ideias que cada partido defende e seja publicamente responsabilizado pelo cumprimento ou não dessas promessas. A questão central tem a ver com a necessidade de refundação das relações de confiança e compromisso entre os quadros e a sociedade angolana. Aparentemente, todos os candidatos concordam na necessidade de uma reforma da política de recursos humanos que possa, no dizer do MPLA, colocar o homem certo no lugar certo. Para que se alcance esse objectivo geral, deverá ser necessário empreender uma verdadeira revolução, através da reformulação dos critérios de escolha dos quadros a diferentes níveis. Todos os países que conseguiram o milagre de um desenvolvimento rápido e sustentável tiveram o factor homem (a sua qualidade técnica, moral e intelectual) como fonte do progresso. Trata-se, pois, de combinar a promessa de colocar o homem certo no lugar certo com a outra, a de melhorar o que está errado e nesse sentido convém fazer correctamente o diagnóstico do problema e não pensar que colocar o homem certo se esgota na nomeação de ministros e restantes membros do governo. Apesar de serem figuras importantes, neste caso os membros do governo são meras consequências de toda uma politica de quadros que precisa de ser reformulada. Em primeiro lugar, é preciso mudar de atitude para com o pensamento crítico. Se quisermos ter o homem certo no lugar certo e melhorar o que está errado, então quem aponta outros caminhos, quem produz ideias divergentes ou faz o contraditório, como as associações profissionais, os sindicatos, professores universitários, a imprensa, etc., etc., não podem continuar a ser vistos como inimigos do país e do progresso. Temos de parar com a lógica da compra de consciências e da promoção de pessoas que só dizem o que queremos ouvir. Lamentavelmente, o MPLA que agora reconhece que existem coisas erradas por corrigir, continua a permitir a prática da marginalização e da rotulação pejorativa, o que obviamente impede um debate construtivo sobre as soluções mais viáveis para os problemas do país. O esforço deve ser, por isso, a substituição da arrogância do "nós é que sabemos, vocês não percebem nada disso" pelo diálogo humilde em que todos aprendem uns com os outros e as pessoas não se diferenciam pela cor da camisola, igrejas ou por serem da sociedade civil ou da função pública. (...)
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