Claro que essa reflexão seria inconveniente, pois iria desaguar no cerne da questão - a incompatibilidade entre a orientação programática e as práticas do Executivo e do partido e a atribuição de responsabilidades por tal "desvio" à direcção do Executivo e do próprio partido. Ao longo dos últimos anos manteve-se a mesma postura e os seus resultados não podem ser subalternizados ou esquecidos.

O caso da juventude enquadra-se perfeitamente neste quadro. Quando em 2013 se pensou dialogar com a juventude, o MPLA e o Executivo fizeram mais do mesmo: conversou-se entre "amigos e camaradas", com as conclusões habituais, isto é, que o balanço era globalmente positivo ou satisfatório e que era preciso, melhorar o que está bem e corrigir o que está mal (a frase é da minha responsabilidade para actualizá-la face ao novo léxico eleitoral).

Não se questionaram os verdadeiros problemas que já então eram mais do que notórios. O emprego, a qualidade do ensino que está a afectar e vai afectar ainda mais a possibilidade de acesso a empregos com alguma dignidade e qualificação, o modelo escolhido para solução do problema habitacional injusto e confuso (nos municípios do interior não é segredo para ninguém que jovem que não "participa" não tem qualquer hipótese de acesso às chamadas "200 casas"), as políticas agrícolas que estão a matar a agricultura familiar e a acelerar o êxodo rural, a exclusão de jovens estudantes e profissionais com elevado potencial pelo facto de não pertencerem à cada vez mais anacrónica e menos atractiva JMPLA (um viveiro de "quadros" que pouco sabem fazer para além de fomentar a burocracia partidária e a intriga política, no dizer de muitos jovens que ainda se mantêm por lá), a insistência em realizar eventos como os acampamentos de estudantes universitários (CANFEU) organizados pela mesma JMPLA em vez das associações estudantis, as causas do alcoolismo e do uso de drogas, e muitos outros que poderia continuar a enunciar, foram encarados com a leveza de que é preciso melhorar o que está bem e corrigir o que está mal.

(Pode ler esta crónica integral na edição nº 483 do Novo Jornal, nas bancas, ou em digital, cuja assinatura pode pagar no Multicaixa)