Há quarenta anos, as raízes da contestação à liderança de Agostinho Neto já vinham de longe, mas o fermento terá entrado em ebulição depois de Bernardo Alves Baptista, "Nito Alves", então Ministro da Administração Interna, e José Van-Dunem, à época Comissário Político adjunto das FAPLA, terem participado, em Moscovo, entre 24 de Fevereiro a 5 de Março de 1976, no XXV Congresso do PCUS - Partido Comunista da União Soviética.

Há quarenta anos, no rescaldo desta deslocação, estes dois altos dirigentes do MPLA, no seu regresso a Angola, seriam acusados de terem recebido uma "lavagem cerebral", que os converteria em fanáticos defensores da ortodoxia soviética.

Há quarenta anos num comício em Luanda, Nito Alves proclamava solenemente que "o racismo só deixará de existir em Angola quando brancos e mulatos começarem a varrer as ruas"... Há quarenta anos, sete meses antes de Maio de 1977, mais exactamente de 23 a 29 de Outubro de 1976, tinha lugar a III Reunião Plenária do Comité Central do MPLA que decidira criar uma Comissão de Inquérito dirigida por José Eduardo dos Santos para apurar a dimensão da germinação das sementes fraccionistas nas suas fileiras.

Há quarenta anos, também em Outubro de 1976, dirigido por Virgílio Frutuoso era encerrado o Diário de Luanda, vespertino que era suspeito de estar ao serviço da corrente nitista.

Há quarenta anos, ainda no último trimestre de 1976, entre os primeiros detidos associados ao radicalismo de Nito Alves e José Van-Dunem figurava o actual deputado do MPLA, o escritor Botelho de Vasconcelos "Ninano", que, segundo o seu próprio testemunho, seria o último prisioneiro a avistar-se em Maio de 1977 com Hélder Neto, um dos responsáveis pelo Departamento de Informação e Análise da DISA - a polícia política do regime - antes de este se suicidar...

(Pode ler esta crónica integral na edição nº 484 do Novo Jornal, nas bancas, ou em digital, cuja assinatura pode pagar no Multicaixa)