O futebol arrasta multidões, inflama paixões e tornou-se uma "máquina de fazer dinheiro" nas lides mundiais, mas em Angola a modalidade-rainha sobressai cada vez mais pelos resultados pobres, apesar dos negócios milionários que envolve.

Para além de receber o equivalente a cinco milhões de dólares da operadora de televisão ZAP pelos direitos de transmissão do Girabola, a FAF - que fica com um milhão desse "bolo" e distribui os restantes quatro pelos 16 clubes que integram a prova -, anunciou recentemente que vai receber, a cada quatro anos, um milhão de dólares da FIFA para desenvolver a modalidade no país.

A estes valores junta-se uma fatia do Orçamento Geral do Estado, atribuída através do Ministério da Juventude de Desportos (MINJUD) às diversas federações, sendo que a FAF tem sido a mais favorecida nesta distribuição.

No OGE 2015, por exemplo, a FAF recebeu do MINJUD 172 milhões e 500 mil Kwanzas.

Apesar do investimento, os resultados teimam em não aparecer.

"A nossa selecção está numa fase de restruturação, o nosso futebol não está atravessar um bom momento todos nos sabemos", reconhece o presidente da FAF, Artur Almeida e Silva, em declarações ao Novo Jornal Online.

O responsável acredita, no entanto, que a selecção vai acabar por explodir. "É preciso que as pessoas tenham consciência do trabalho que está a ser desenvolvido. Estamos a trabalhar para o futuro, ainda não é o momento de exigirem resultados", sublinhou.

O responsável da FAF explicou ainda que o treinador dos "Palancas Negras" recorre aos jogadores que actuam na Europa, devido à falta de experiência dos jogadores do Girabola.

"Alguns jogadores que actuam no Girabola ainda não têm experiência de selecção. Por esse motivo estamos a dar oportunidade a todos, só depois é que iremos definir os futuros "Palancas Negras"", afirmou.

FAF deve parar por cinco anos para afinações

A confiança do dirigente em jogos melhores está contudo longe de contagiar os adeptos, descontentes com o que dizem ser uma direcção inábil do futebol nacional.

Para o gestor Leonel Cândido, a FAF deve mesmo interromper os trabalhos para implementar uma profunda reorganização.

"A FAF deve paralisar durante cinco anos para se organizar em todos os sentidos. Só assim poderemos entrar nas competições internacionais", defendeu o adepto dos "Palancas", em declarações ao Novo Jornal Online.

Já António Silvestre é de opinião que a aposta da federação deve incidir na formação: "Os dirigentes devem dar mais espaço às camadas jovens, criar mais escolas e uma academia de futebol para as crianças".

Por sua vez, o funcionário público João António destaca a falta de retorno do investimento.

"De tanta decepção já não me preocupo em saber da selecção angolana de futebol. O estado do nosso futebol é lamentável, o Governo investe muito nessa modalidade mas é a que nos traz mais desgosto", diz este adepto.

De recordar que a primeira e última participação do 11 nacional numa fase final do campeonato do mundo de futebol foi há mais de uma década, no Mundial da Alemanha 2006, sob comando do técnico Oliveira Gonçalves.

Desde essa data, a selecção angolana perdeu a qualificação para o mundial de 2010 na África do Sul e para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil.