Este autoritarismo, impulsionado por doses generosas de populismo, vai triunfando à custa das muitas promessas (e realizações, é verdade, embora perigosíssimas...) dos seus principais actores e da mentalidade de quem os segue.

O nacionalismo (que, alcançadas as Independências em África, por exemplo, não pode ser confundido com patriotismo) é uma doutrina perigosa e não vem de hoje. Hitler, Salazar, Franco, Mussolini, apenas para lembrar a trágica memória de alguns, eram todos, de formas diferentes mas de conteúdo exactamente igual, defensores do nacionalismo. Que exacerbava populações. Que, supostamente, fazia dos povos a que pertenciam comunidades superiores às demais, quer do ponto de vista racial, quer étnico, quer de todos os pontos de vista que uma mente delirante pode inventar.

Estes aspectos, misturados com o cansaço do (às vezes mau) funcionamento dos sistemas democráticos, a dependência dos políticos profissionais relativamente aos grandes poderes económicos, a perda de inúmeros direitos conquistados nas décadas seguintes ao final da 2ª. Guerra Mundial, alimentam os seguidores de novos ditadores, que utilizam o próprio sistema eleitoral como forma de o abandonar e de o perverter.

A perda cada vez mais acentuada das soberanias nacionais, alimentada pela forma como os capitais financeiros não têm pátria e se tornam, as mais das vezes, incontroláveis, também funciona como um agente que leva à reacção de milhões de pessoas, por norma de insuficiente formação cívica e política. Que, ou pelo silêncio ou pela revolta, colocam-se a jeito como seguidoras destes chefes políticos, todos eles, uns mais outros menos, de personalidade marcadamente "mussoliniana".

Este conjunto de líderes políticos é, por ideologia, fundamentalmente xenófobo, patriarcal e autoritário, no dizer do antropólogo indiano Arjun Appadurai. Basta olharmos para o mapa e vermos a América de Trump, a Índia de Narendra Modi - que tenta esmagar a herança de Jawaharlal Nehru e de Mahatma Gandhi -, a Turquia de Erdogan, que afasta sempre que pode o sentido moderno e humanista de Kemal Ataturk. Mas também governos de pendor autoritário como na Hungria com Viktor Orgán e na Polónia, onde governa Andrzej Duda, além do vasto número de forças políticas de direita e de extrema-direita como se vem verificando na França, na Áustria e em vários outros países da União Europeia. É importante não esquecer Theresa May na Inglaterra, cujas diferenças de fundo não são praticamente nenhumas.

Todos têm em comum - disfarçando uns mais, outros menos - o racismo, a xenofobia, a megalomania e a misoginia.

Socorrendo-nos de novo de Appadurai, "o maior êxito da política de Trump é meter os «gregos» de raça branca no cavalo de Tróia de cada uma das suas mensagens sobre a grandeza «americana», de tal forma que, tornar novamente grande a América é a maneira de prometer que os brancos do país serão novamente grandes... A mensagem sobre a salvação da economia americana foi transformada numa mensagem sobre a salvação da raça branca."

A intolerância, a arrogância, o despotismo, não podem vencer junto com a profunda desigualdade social que estas doutrinas perigosas e de fácil disseminação deixam cada vez a descoberto.

O cumprimento dos preceitos fundamentais de um regime democrático e a ponderação nas deliberações essenciais que visem pôr em prática um projecto político sério e progressista, porque só assim poderá ser justo; medidas activas de diminuição da desigualdade económica e uma colaboração intensa a nível internacional que obrigue a reduzir o papel desestabilizador das indútrias financeiras que vivem e lucram de pôr em risco lideranças políticas democráticas, poderão ser o garante de uma alternativa a estes regimes que assentam na verborreia fácil e na demagogia, vectores de sistemas neo-fascistas.