A reconstrução e o boom petrolífero em Angola proporcionaram uma oportunidade de enriquecimento para todos aqueles com ligações ao poder político bem como para os respectivos familiares, escreve Norimitsu Onishi, num extenso artigo publicado no New York Times.

Com o título "O Boom da Corrupção em Angola", o jornalista - que chefia a delegação de Joanesburgo do diário norte-americano -, nota que "é impossível determinar com exactidão quanto desapareceu dos cofres públicos", desviado para "bolsos privados"sob o impulso da reconstrução.

O repórter cita contudo o Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, que estima que entre o fim da guerra, em 2002, e 2015, as contas públicas apresentaram um buraco de 28 mil milhões de dólares.

"Até 35% do dinheiro gasto na construção de estradas desapareceu", assinala o artigo, com base em dados do CEIC.

A amplitude das discrepâncias financeiras é descrita de forma metafórica pelo antigo primeiro-ministro, Lopo do Nascimento: "Foi como abrir a janela e deitar dinheiro fora".

Crítico, o histórico do MPLA apela a uma mudança de atitudes: "Se construir ou reconstruir isto custa 10, não vou facturar 20 e enfiar os outros 10 no bolso", exemplifica.

Para além de apontar a distorção das contas do Estado, por via das obras públicas, Lopo do Nascimento adverte que a reconstrução só pode ser sustentável com formação da mão-de-obra nacional, que continua a ser preterida em favor de trabalhadores expatriados.