Se em 2016, o relatório sobre tráfico de pessoas do Departamento de Estado norte-americano sublinhava que 70% das vítimas deste fenómeno em Angola são crianças - obrigadas a prostituir-se e a contrabandear mercadorias para a Namíbia -, a edição deste ano destaca a falta de investigação às alegações de cumplicidade de altos dirigentes angolanos no tráfico de pessoas.

Apesar de reconhecer, tal como em 2016, que o Governo tem envidado esforços para combater o fenómeno - conforme demonstra a apresentação recente do Sistema de Alerta de Rapto de Menores -, o documento conclui que o país ainda não conseguiu atingir os requisitos mínimos em "muitas áreas", como, por exemplo, a criação do fundo de protecção de mecanismos, bem como legislação, abrigos e serviços médicos e psicológicos às vítimas.

Segundo se lê no "Relatório sobre o Tráfico de Pessoas 2017", citado pela agência Lusa, ao longo dos últimos cinco anos Angola tem sido a fonte e o destino de homens, mulheres e crianças ligadas ao tráfico sexual e trabalhos forçados, sobretudo nas áreas da construção civil, serviços domésticos, agricultura e no mercado diamantífero.

Elaborado pelo Gabinete para Monitorizar e Combater o Tráfico de Pessoas, o documento alerta para a exploração das raparigas, que a partir dos 13 anos se tornam vítimas do tráfico sexual, bem como para a instrumentalização, por parte dos adultos, de jovens, a partir dos 12 anos, para actividades criminosas.

O documento revela ainda que Angola tem sido destino de mulheres do Brasil, Namíbia, República Democrática do Congo e Vietname, no âmbito do tráfico sexual, enquanto a comunidade chinesa é acusada de recrutar jovens mulheres para as empresas no país, com a promessa de emprego, deixando-as, depois, sem passaporte e obrigando-as a trabalhar na prostituição.

Para além de recomendar ao Executivo que aposte nas investigações a situações de tráfico laboral e sexual, inclusivamente nos casos em que existe suspeita de cumplicidade de altos dirigentes do país, o relatório propõe mais e melhor legislação para combater a "lavagem de capitais", maior fiscalização aos locais de trabalho onde as suspeitas são maiores e uma melhor assistência médica e jurídica às vítimas.

Os EUA reconhecem contudo os progressos do Governo neste domínio, com destaque para as primeiras condenações a penas pesadas de um número crescente de traficantes e a colaboração com instituições internacionais de combate ao crime organizado.

O Departamento de Estado norte-americano realça também a criação de uma comissão interministerial que, desde 2014, tem reunido com frequência e tomado medidas e decisões com impacto no combate ao fenómeno.