Em entrevista à publicação pan-africana African Arguments, o empresário e ex-governador da antiga província congolesa de Katanga - que comandou até ao limite máximo de dois mandatos, de 2007 a 2015 - respondeu aos rumores que antecipam uma aliança política com Sindika Dokolo para disputar o poder na RDC.

"Antes de mais, Sindika é um irmão congolês", disse o político e empresário, acrescentando que o coleccionador de arte trabalha arduamente e "quer contribuir para a mudança no Congo".

Moïse Katumbi, exilado em Bruxelas desde o ano passado, na sequência de uma condenação a três anos de prisão por alegado crime imobiliário - acusação semelhante àquela que na semana passada valeu a Sindika Dokolo uma sentença de um ano de prisão - adiantou que, para além do marido de Isabel dos Santos, há outros aliados para derrubar o actual regime.

"Não somos apenas nós os dois. Estive com Sindika Dokolo e com Félix Tshisekedi", declarou o político em resposta à pergunta: "Tendo em conta que partilham o mesmo objectivo [afastar o regime de Kabila], não fará sentido uma união de forças com Dokolo?".

Mais do que elencar possíveis parceiros políticos - Félix Tshisekedi assumiu este ano a direcção da União para a Democracia e o Progresso Social, principal partido da oposição na RDC, após a morte do seu pai e histórico líder Étienne Tshisekedi -, Katumbi destacou o apoio da sociedade civil.

"O povo congolês e toda a sociedade civil precisam de uma mudança efectiva. Hoje a população congolesa está determinada. Conheci muitos congoleses nascidos na Europa que querem voltar a dar o seu contributo", sublinhou na entrevista à African Arguments.

Já sobre o seu próprio regresso à RDC, o antigo governante garantiu apenas que está para breve.

"Vou regressar o mais depressa possível. Fui com o meu advogado ao Alto Comissário para os Direitos Humanos das Nações Unidas, em Geneva, e tive uma boa resposta. Por isso vou de certeza voltar. Tenho saudades do meu país e do meu povo", adiantou Katumbi.

Confiante na queda de Kabila, que acusa de manter o poder à custa de matanças - que diz não pouparem sequer mulheres grávidas nem crianças -, o empresário defende que as suas "manobras" vão acabar por deixá-lo encurralado.

"Acha que Sindika Dokolo iria roubar um milhão de dólares? O pai dele foi o primeiro banqueiro do país", assinalou Katumbi, frisando a ideia de que tanto a sua condenação como a do coleccionador de arte foram politicamente instruídas.

"Como Dokolo está a defender a saída de Kabila do poder, a única estratégia do Presidente é derrubá-lo com falsas acusações, como fez comigo", reforçou o ex-governador.

As declarações de Moïse Katumbi surgem pouco mais de uma semana depois da notícia de um novo adiamento das eleições gerais na RDC, que, em acordo assinado em finais de 2016 entre a oposição e o Governo do Presidente Joseph Kabila, ficaram aprazadas para este ano.

Eleições tremidas

O anúncio do adiamento das eleições foi feito na capital francesa, Paris, pelo presidente da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI), Corneille Nanga, justificando com a impossibilidade de concluir o registo eleitoral e com a insegurança que se vive em várias províncias do país, desde os Kivu, Norte e Sul, onde pontificam as guerrilhas, e o Kasai, onde actuam as milícias tribais do Kamwuina Nsapu (chefe tradicional) local.

Um novo adiamento das eleições gerais na RDC, que já deveriam ter tido lugar em Dezembro do ano passado, pode gerar uma nova vaga de violência no país, como, alias, a oposição garantiu acontecer caso o Governo não cumpra o que foi acordado a 31 de Dezembro no capítulo das eleições que vão ficar marcadas pela saída do poder de Joseph Kabila, constitucionalmente impedido de se recandidatar a um terceiro mandato.

O presidente da CENI não se comprometeu com qualquer nova data para a realização das eleições, apesar de poder ser dramática a consequência de mais um adiamento das eleições tendo em conta o que aconteceu em Kinshasa entre Janeiro de 2015, quando começaram as manifestações violentas, e Dezembro de 2016, altura em que o acordo para a realização das eleições em 2017, entre a oposição e a Maioria Presidencial (MP) de Kabila, permitiu o fim da violência que deixou um rasto de mais de 150 mortos nas ruas da capital congolesa.

As primeiras reacções surgiram por parte da oposição, que se mostra incrédula com a possibilidade deste novo adiamento, e também das ONG congolesas, como é o caso do Instituto de Pesquisa em Direitos Humanos (IRDH, sigla em francês), que já veio a público afirmar que não há nada que permita justificar um novo adiamento das eleições gerais na RDC.