"Os agentes do sector artístico/cultural precisam de um alívio maior, porque foram os primeiros a parar e vão ser os últimos a abrir".

A frase reproduzida no parágrafo anterior foi proferida em meados de Maio pela então ministra da Cultura, Turismo e Ambiente. Na altura, Adjany Costa acabava de presidir a uma reunião que visava a «confecção» de um documento com propostas dos artistas e promotores de eventos culturais sobre as medidas de alívio económico a adoptar pelo Governo face à pandemia da Covid-19.

Seguir-se ia - conforme, aliás, foi noticiando o Novo Jornal - um longo período de espera, com os agentes culturais, na sua maioria, a queixarem-se de nunca terem recebido apoio do Estado, apesar de o Governo jurar o contrário.

E foi, praticamente, em alternativa a tudo isso que a aposta no on-line se afirmou como uma «moda» que veio para ficar: eventos diversos passaram a ser realizados/transmitidos no Facebook, Instagram, Youtube e Zoom, de espectáculos musicais a lançamentos de livros, passando por colóquios, exposições e exibições de teatro, etc.

Aliás, com a proibição de ajuntamentos, um novo vocábulo, tomado de empréstimo ao inglês, passou a fazer parte do dia-a-dia dos angolanos: live [directo em português]. E as estações de TV, tanto públicas como privadas, viraram as «baterias» para a transmissão de espectáculos musicais, com exibições aos fins-de-semana.

O ano fica ainda marcado pela inauguração da nova sede do Arquivo Nacional de Angola, cujo preço das obras disparou de 72 milhões de dólares iniciais para 97 milhões, segundo ANGOP.

Cancelados pela Covid-19

Enquanto alguns sectores da indústria do espectáculo conseguiram adaptar-se ao dito «novo normal», apostando na exibição on-line, outros tiveram de se ceder à força da pandemia, consentindo adiamentos, cancelamentos e improvisos.

Por exemplo, a edição de 2020 do Top dos mais queridos realizou-se sem a tradicional gala de eleição do artista ou banda favoritos do público. O concurso saudou o 45.º aniversário da Independência Nacional, homenageando a Rádio Nacional de Angola pelo seu contributo na divulgação da música angolana ao longo dos anos.

Também o tradicional banquete da entrega dos prémios Nobel foi cancelado pela primeira vez desde 1956. Na vertente cultural, a lista de cancelamentos associados à Covid-19 integra, igualmente, a não-realização da 3.ª edição do Prémio Internacional de Investigação Histórica Agostinho Neto e o facto de a União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC-SA) continuar sem «tirar do papel» o projecto que pretendia pôr os músicos e actores angolanos a actuar nas carruagens dos comboios que circulam pelo País.

Contudo, foi também no meio da pandemia que os angolanos se familiarizaram com expressões que, nalguns casos, até desconheciam: comorbilidade, quarentena, isolamento, fica em casa, novo normal, casos suspeitos, contacto dos contactos, cerca sanitária, entre outras.