Será a arte um meio para Sindika Dokolo reabilitar a imagem de "africano rico corrupto", como apontam alguns dos seus detractores? Sem uma resposta linear à pergunta, colocada pelo jornalista Joan Tilouine - numa entrevista realizada em Londres, capital da Inglaterra e divulgada no site da fundação Sindika Dokolo -, o coleccionador de arte começa por frisar que "o importante é fazer".

"Alguns dizem que a elite africana é forçosamente corrupta, e, no fundo, o inimigo de África", nota Sindika Dokolo, assinalando que, como contraponto dessa linha de pensamento surgem as organizações não governamentais e a sociedade civil, apresentadas como "forçosamente maravilhosas".

À boleia dos exageros de percepção, o empresário assume: "Prefiro que as riquezas de África regressem para um negro corrupto em vez de ficarem com um branco neocolonialista".

Mais do que um mero exercício teórico, a preferência do coleccionador de arte materializa-se, pelo menos há dois anos, através de uma missão global de resgate de obras de arte africana que foram espoliadas na época colonial e durante as guerras civis.

Os esforços já permitiram a recuperação de duas máscaras e uma estátua Tchokwe para o Museu do Dundo, na Lunda Norte.

Mais recentemente, o coleccionador, que possui um dos maiores espólios de arte africana do mundo, anulou o empréstimo de cinco obras ao museu francês Quai Branly, em protesto contra a recusa da França em devolver objectos que diz terem sido pilhados ao povo do Benim.

"O meu método pode ser considerado como radical. Mas já permitiu localizar uma dezena de obras de arte, três das quais já foram devolvidas ao Governo angolano", recorda Sindika Dokolo, também conhecido por ser casado com a empresária Isabel dos Santos.

Para além da campanha de resgate do património cultural africano através da recuperação de peças roubadas, o coleccionador defende a necessidade de se alterar a perspectiva redutora que o Ocidente tem da arte do continente - recorrentemente encerrada nos rótulos de primitiva e tribal.

"Instalei a minha fundação em Luanda, onde vivo, porque quero que seja um símbolo da dignidade africana através da arte", explica, descartando a ideia de que a morada luandense fragiliza o potencial da instituição, nomeadamente devido às dificuldades na obtenção de vistos de entrada em Angola.

Pelo contrário, para Sindika Dokolo a mais-valia da fundação está precisamente no facto de ficar em Luanda.

"Angola, não tenho dúvidas de que mais do que a África do Sul, é o país do continente onde se pratica mais a cultura da dignificação do ser humano, do combate para sobreviver. Há uma verticalidade angolana, o angolano é um povo que anda de cabeça levantada. Isso encontra-se na arte, na política e no activismo, como por exemplo em Luaty Beirão", considera o coleccionador, que aponta o rapper - condenado no âmbito do processo 15+2 -, como revelador do carácter nacional.

"Mesmo que não adore o que ele faz, nem as suas ideias quase anarquistas, ele tem essa característica muito angolana: a coragem na luta", reforça Sindika Dokolo, que vê em toda essa energia artística de Luanda uma fonte de inspiração.