Em declaração ao Novo Jornal Online, Adão Gabriel, de 55 anos, afirmou que vai deixar de fazer relatos dos jogos por motivos de saúde.

"Sou hipertenso. Não quero correr os mesmos riscos que alguns colegas correram e, morreram. Em Angola não temos grande assistência médica para cuidar da voz", contou.

"A voz vai-se desgastando como tempo e o esforço. Essa é uma das razões que faz com que percamos qualidades no que toca ao relato em determinados momentos", disse o radialista, lembrando os casos de Silvério Martins, que no CAN do Ghana, em 2008, acabou por desmaiar em pleno relato, e do português Jorge Perestrelo, que acabou por morrer no dia seguinte ao seu relato, na Rússia, de um jogo do Sporting frente ao AZ Alkmaar", lamentou.

" A vida é feita sempre de cautelas", disse.

Com uma dicção "extraordinária", e para muitos o "melhor locutor da Rádio Nacional de Angola, até porque tem uma voz de fazer inveja a qualquer um", Adão Gabriel ingressou para os quadros da RNA em Malange, em 1978, e passou a fazer parte da primeira equipa de jornalistas angolanos pós-independência.

Mas afirmou-se como jornalista em Benguela, onde foi repórter de guerra e classificado como um dos melhores relatores de Angola em 1990, sob indicação do malogrado Rui de Carvalho, ex- director do grupo RNA, que o chamou para fazer parte da equipa que foi para o Mundial de Itália em 90.

O radialista inspirou-se ouvindo os relatos na Radio Difusão Portuguesa, onde teve como referência grandes nomes como os de Artur Agostinho, Nuno Braz, Fernando Correia, Gabriel Alves e António Pedro.

Em Angola foi influenciado por Rui de Carvalho, que para o locutor é um "grande mestre".

Adão Gabriel tem como lembrança os relatos dos jogos no Mundial da Alemanha 2006, em que Angola participou, e a narração do jogo Rwanda - Angola, em 2005, que qualificou os angolanos para o mesmo mundial, ao lado de Vaz Kinguri, outro grande narrador desportivo da radio 5.

"Irei colocar um ponto final nos relatos com o dever cumprido, mas orgulho-me de ser hoje uma referência no jornalismo desportivo em Angola. Embora reconheça Vaz Kinguri e José Kissanga como os melhores narradores desportivos que o país tem, pois eles estão a responder bem ao nosso exemplo. Mas eu deixo como meu sucessor o jovem Celestino Gonçalves".

"O relato é um canto, é música, e se a pessoas não tiverem queda para tal, por mais formadas que estejam, não podem ser relatores, o relato nasce connosco", concluiu.

Adão Gabriel faz parte da terceira geração das grandes vozes da RNA, onde se destacam também Manuel Rabelas, Arlindo Macedo, Raul Silva e Mateus Gonçalves.