Zanele Sanni, que participou em Luanda num fórum dedicado à agro-indústria e agro-negócios promovido pela Câmara de Comércio e Indústria dos dois países, admitiu que as instituições bancárias e organismos financiadores regionais e sub-regionais estão a analisar quais os mecanismos a recorrer para regular as transacções comerciais realizadas em moeda angolana e sul-africana.

A acontecer, esta possibilidade abre a porta ao regresso do Kwanza ao palco das moedas com valor internacional, depois de um acordo de conversão monetária entre Angola e a Namíbia ter fracassado pouco depois da sua implementação, há cerca de dois anos, devido ao acumular gigantesco de kwanzas pelo Banco da Namíbia.

Esse acordo, que previa a aceitação de kwanzas em algumas cidades e regiões fronteiriças namibianas, recorde-se, vigorou alguns meses em 2015, e gerou, antes de ser interrompido, uma dívida ao país vizinho superior a 300 milhões de dólares norte-americanos devido ao fluxo de cidadãos nacionais que aproveitaram para realizar compras do outro lado da fronteira com a moeda nacional. Essa dívida está a ser paga em tranches regulares.

Este acordo permitiu a milhares de angolanos ultrapassar a dificuldade no acesso a divisas e a moeda forte estrangeira mas durou muito pouco tempo porque se constatou rapidamente que tinha apenas um sentido, de Angola em direcção à Namíbia, ficando o banco Nacional de Angola responsável por readquirir os kwanzas depositados do Bando da Namíbia com divisas, nomeadamente dólares norte-americanos.

Agora, com esta possibilidade de realizar transacções comerciais com a África do Sul em kwanzas, ou em rands (moeda com câmbio regular em praticamente todo o mundo), no sentido inverso, os comerciantes angolanos, pelo menos, porque, por enquanto não estão definidos os contornos deste eventual acordo e não se sabe que abrangência poderá ter, têm uma nova oportunidade para se livrarem das "grilhetas" existentes devido às dificuldades de acesso a divisas geradas pela quebra das receitas do petróleo a partir de 2014.

Dificuldades essas que resultam dos problemas gerados pelas fragilidades de relacionamento do seu sistema bancário com as normas e disposições internacionais no que respeita à vigilância sobre financiamento de actividades ilícitas ou de branqueamento de capitais, entre outros crimes.

Neste encontro em Luanda, a directora do Departamento de Comércio e Indústria da África do Sul afirmou mesmo, citada pela imprensa, que o seu país está interessado em ajudar Angola a libertar-se das dificuldades de acesso a moeda internacional.

Para isso, adiantou Zanele Sanni, os bancos e as instituições regionais de financiamento estão a estudar que mecanismos devem ser alinhavados para enquadrar as transacções comerciais entre as duas moedas, o Rand e o Kwanza.

É de lembrar que a África do Sul foi o país escolhido pelo Presidente João Lourenço para a sua primeira visita de Estado desde a sua tomada de posse, realizada em Novembro, onde, entre outras questões tratadas, foi impulsionada uma parceria estratégica entre os dois países e foi abolida a necessidade mútua de visto em passaporte para deslocações de cidadãos nacionais entre os dois países por períodos de até 90 dias por ano.

PR já tinha dado sinais em Pretória

João Lourenço afirmou, no discurso de abertura das conversações oficiais que ocorreram durante a sua visita de Estado à África do Sul, que estavam em curso esforços para "desenvolver e consolidar as respectivas economias e lutar por uma integração económica cada vez mais efectiva, favorecendo a livre circulação de pessoas e bens e o incremento das relações comerciais".

Considerando que "este processo de integração se deve fazer por enquanto de forma gradual e ao nível bilateral", João Lourenço referiu que pode proporcionar "desde acordos de comércio preferencial até à criação de áreas de comércio livre" e que "os dois países devem assumir-se, no quadro da SADC, como motores da nova dinâmica, que se pretende imprimir à cooperação na África Austral".

"Angola deve aprender com a África do Sul o processo de transformação de uma economia paralela e informal numa economia em que as empresas são devidamente auditadas e cotadas em bolsa", sublinhou.