De acordo com o diário, o compromisso foi assinado esta segunda-feira, 29, em Brasília, durante um encontro que juntou Archer Mangueira com o seu homólogo brasileiro, Henrique Meirelles.

"Angola é um país que tem cumprido seus compromissos financeiros com o Brasil. Por isso, decidimos fazer um memorando de entendimento que possa facilitar futuros empréstimos e linhas de crédito também do sector privado", adiantou o governante brasileiro, no final da reunião.

Para além de rubricar o entendimento com o ministro da Fazenda do Brasil, o titular das Finanças angolanas - cuja viagem a Brasília foi anunciada pelo Presidente João Lourenço a partir da Suíça- reuniu com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro.

"O objectivo do encontro foi discutir contratos em vigor do banco brasileiro com Angola", escreve O Globo, que cita um comunicado do BNDES.

Na mensagem, a instituição informa que a reunião com Archer Mangueira permitiu "discutir a estruturação de novos financiamentos em máquinas e equipamentos brasileiros".

Tal como o ministro da Fazenda, o banco destacou as boas contas com Luanda, garantindo que o país "se mantém em dia com as obrigações financeiras" que assumiu com o BNDES.

A nota do banco desfaz a ideia, veiculada nas últimas semanas em alguns órgãos de informação brasileiros, de que o Executivo angolano se preparia para entrar em incumprimento com o BNDES.

"Após calotes de Venezuela e Moçambique, no ano passado, Angola pode ser a próxima a atrasar pagamentos de empréstimos do BNDES que financiaram obras de empreiteiras brasileiras. No total, o banco tem 4,3 mil milhões de dólares a receber de dívidas nessa modalidade, sendo 2 mil milhões de dólares da Venezuela, Moçambique e Angola", avançava no início deste mês o jornal Estadão.

Projectos em Angola financiados pelos BNDES suspensos em 2016

Como o Novo Jornal Online noticiou a 12 de Outubro de 2016, o BNDES, profundamente envolvido no escândalo de corrupção que varreu o Brasil, suspendeu diversos projectos em Angola por causa do "Lava Jato", cujo pilar estava assente na petrolífera brasileira Petrobras.

Directamente afectados, entre outros, segundo um comunicado do BNDES, foram as obras no Polo Agro-industrial de Capanda, o aproveitamento hidroeléctrico de Laúca (AH Laúca), o alteamento de Cambambe, e a segunda central da barragem de Cambambe, num total de 808,8 milhões de dólares.

No comunicado do BNDES soube-se que foram afectados "financiamentos contratados a exportações de serviços de engenharia das empresas Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez", envolvendo vários países.

Depois deste escândalo, o Brasil reviu toda a sua estratégia de internacionalização para as suas empresas e as linhas de crédito com diversos países, sendo Angola um dos mais visados devido à significativa presença de interesses brasileiros no país.

Recorde-se que na ocasião, estas decisões tomadas em Brasília criaram um certo incómodo no Governo angolano que chegou mesmo a pedir explicações para a suspensão dos financiamentos, alegando não haver nada que o justificasse, apesar das suspeitas e acusações a correr nos tribunais brasileiros envolvendo figuras importantes angolanas.

Os financiamentos brasileiros em Angola partem de um acordo geral assinado em 1980 e que define os contornos do relacionamento bilateral nesta matéria.