"Esta selecção é baseada na nossa pesquisa local, metodologia própria de previsões e cálculos relativamente ao risco quantitativo", lê-se no relatório 'Africa Investment Risk Report 2019', enviado aos investidores e a que a Lusa teve acesso.

A selecção, explicam os analistas liderados por Robert Besseling, "apresenta algumas das nossas previsões de risco para este ano e sinaliza potenciais oportunidades de negócio e novos investimentos", num conjunto de estimativas que leva em linha de conta "os principais motivos para os riscos político e de segurança e económico, bem como outras tendências de mais longo prazo que podem determinar a trajectória de risco de um país".

Na introdução do relatório, os analistas admitem que "pode, ou não, ser surpreendente que as maiores economias africanas - Nigéria, África do Sul e Egipto - não apareçam na seleção dos cinco principais países para investir", mas explicam que, além de já terem aparecido em edições anteriores, há questões específicas a cada país, como as eleições muito disputadas na África do Sul e na Nigéria, e a 'velocidade de cruzeiro' no Egipto.

Relativamente ao ano passado, a Costa do Marfim saiu da lista devido "às novas pressões orçamentais e à mudança da dinâmica política, mas Angola e Gana continuam solidamente na lista dos favoritos para este ano, que têm também duas apostas em localizações talvez mais 'arriscadas'", concluem os analistas, referindo-se a Moçambique, Etiópia e Mauritânia.

Angola beneficia do programa do FMI mas Sonangol e dívida são riscos

A consultira considera que Angola beneficia do programa com o FMI, levando a mais investimentos, com "oportunidades imediatas" no petróleo, mas apontou a banca e as dívidas da Sonangol como riscos de médio prazo.

De acordo com o 'Africa Investment Risk Report 2019', enviado aos investidores, e a que a Lusa teve acesso, Angola, que aparece novamente na lista, desta vez em segundo lugar a seguir à Etiópia, quando no ano passado tinha estado em primeiro, é apresentada como um país cuja "economia vai recuperar em 2019 com a perspectiva de aumento dos níveis de produção de petróleo e apoio financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI)".

O programa de 3,7 mil milhões de dólares aprovado pelo Fundo vai "acrescentar legitimidade à trajectória reformista do Presidente João Lourenço", o que fará com que, "aumentando o cumprimento das condições macroeconómicas e de abordagem às políticas, o optimismo do mercado face a uma já de si promissora economia angolana, deve melhorar ainda mais".

O início da recuperação económica em Angola vai beneficiar da presença do FMI para garantir políticas favoráveis ao mercado, "que vão facilitar o ambiente de negócios, que por sua vez levará a mais investimento e expansão, de um ponto de vista geral".

Há, apontam os analistas, "oportunidades imediatas para o sector do petróleo e gás em Angola nas rondas de licitação deste ano, que são passos concretos para reverter a tendência decrescente de produção".

Apesar da opinião positiva, a EXX Africa aponta também alguns riscos a médio prazo, nomeadamente as "dívidas massivas" da companhia nacional de petróleo, a Sonangol, e do sector bancário, que continua "exposto politicamente".

Os bancos, afirmam, "precisam urgentemente de uma ronda de consolidação para melhorar a qualidade dos ativos e os riscos sobre a moeda externa", notando que "com a dívida pública em cerca de 70% do PIB, o crédito interno é agora crucial para o financiamento do Estado".

Outro dos riscos apontados por esta consultora tem a ver com a política contra a corrupção e favorável à liberalização económica: "Apesar de a política altamente popular de combate à corrupção e promoção de uma plataforma de liberalização económica ser dirigida para a diluição do domínio da antiga elite política e económica, os projectos de infra-estrutura vão estar em risco de cancelamento ou revisão", concluem os analistas.

Questionado pela Lusa sobre a razão de os projectos poderem ser adiados, o director da EXX Africa, Robert Besseling, lembrou que "o Presidente Lourenço começou a desbastar o domínio económico e político da família Dos Santos, ao abrigo da bandeira muito popular da plataforma anticorrupção e liberalização económica".

Com a saída de Isabel dos Santos da Sonangol, "a pressão para outros membros e apoiantes da família dos Santos abandonarem os seus monopólios voluntariamente ou enfrentarem intervenção estatal vai avolumar-se".

No sector da construção, aponta o director da consultora EXX Africa, "há grandes projectos de infra-estruturas, como o aeroporto internacional de Luanda, o projecto do porto de Caio ou a hidroeléctrica Caculo Cabaça, que deverão sofrer alterações de contratos por parte do Estado e riscos reputacionais para os empreiteiros, bem como prováveis atrasos, já que os acordos assinados pela família Dos Santos estão a ser reexaminados pelo actual Governo".