José de Lima Massano, que falava aos jornalistas, após uma reunião extraordinária do comité de política monetária do BNA, em Luanda, adiantou que a pressão sentida sobre o kwanza na semana passada "está em linha" com o calendário que o banco central tinha adoptado para a flexibilização da taxa de câmbio, "um percurso que foi iniciado em 2018".

Quanto ao impacto da liberalização da taxa de câmbio nos preços dos produtos, José de Lima Massano afirmou ter sido suavizado com a adopção de uma medida permitindo aos importadores que usam cartas de crédito que não tenham de esperar 90 dias para fazer os pagamentos ao exterior.

"Isso poderia provocar (...) várias situações, incluindo reter mercadoria até estabilizar [o câmbio] e isso provocar escassez e subida de preços", indicou, notando que o pagamento pode ser feito a partir da altura em que as mercadorias se encontrarem no país, o que irá ajudar os importadores a gerir o risco cambial e "mitigar também o impacto sobre os preços".

Mesmo assim, o governador do BNA avisa que é preciso realismo: "Temos uma base larga de importação de produtos, a subida do câmbio vai sempre ter algum impacto", declarou.

No entanto, o responsável do Banco Nacional de Angola adianta que as medidas de gestão de liquidez na economia adoptadas irão "impedir que a taxa de câmbio dispare" e que "os preços sejam colocados de forma desordenada, porque há liquidez suficiente para comprar o produto a qualquer preço".

José de Lima Massano sublinhou ainda que este "exercício de equilíbrio" significa também dar mais "um passo para a mudança", dando condições para que o país produza mais.

"O país tem potencialidade para produzir mais, o que não temos é recurso em moeda estrangeira para continuar eternamente dependente de importações", referiu, lembrando que os recursos em moeda estrangeira provêm, essencialmente, do setor petrolífero

"Não temos como continuar a alimentar a nossa economia com base num único produto de exportação", declarou.

BNA liberaliza taxa de câmbio e acaba com limite na comercialização de divisas

O BNA anunciou a liberalização da taxa de câmbio, removendo a margem de 2% imposta à comercialização de divisas, uma medida que deve entrar em vigor já nos leilões da próxima semana.

O governador do BNA, José Lima Massano, elencou em conferência de imprensa as medidas tomadas na reunião extraordinária do Comité de Política Monetária, entre as quais o fim da margem de 2% sobre a taxa de câmbio de referência que era praticada pelos bancos comerciais na comercialização de moeda estrangeira no mercado interbancário e aos seus clientes.

No início do ano, o BNA tinha já retirado o limite de 2% imposto aos bancos no leilão de divisas e elimina agora a margem de 2% que os bancos podem aplicar, esperando encontrar um equilíbrio cambial até ao final do ano.

"Passaremos a ter um mercado que vai funcionar conforme as forças do próprio mercado, procura e oferta. O que temos hoje é um cenário em que há uma procura superior à oferta e como não temos um elemento que regule essa relação, acabamos por ter a acontecer operações que acontecem fora do sistema financeiro (...) muitas vezes injustas e que põem em causa a segurança dos participantes", justificou o responsável do BNA à margem da conferência de imprensa.

Uma situação que, sublinhou, cria "espaço para que operações legítimas sejam realizadas em canais informais" e para a formação de um mercado cambial alternativo absolutamente especulativo, gerando distorções no funcionamento da economia.

Na conferência de imprensa, José Lima Massano, adiantou que as medidas surgem na sequência da reforma faseada do mercado cambial, iniciada em janeiro de 2018, com vista à formação de uma taxa de câmbio de referência com base no equilíbrio entre a procura e a oferta de moeda estrangeira

"Uma vez atingidos os objectivos das medidas mencionadas, o Banco Nacional de Angola decidiu pela implementação de um regime de câmbio flutuante em que a taxa de câmbio é livremente definida pelo mercado, isto é, de acordo com a procura e oferta de moeda estrangeira", sublinhou o BNA num comunicado divulgado no seu "site" na Internet.