Apesar de o preço do barril de crude nos mercados internacionais estar a subir em ritmo acelerado, batendo todos os recordes desde finais de 2014, a verdade é que os últimos anos de preços baixos - chegou aos 29 USD/barril em Fevereiro de 2016 - levou a um forte desinvestimento no sector que está a impor uma baixa continuada e significativa da produção angolana.

Nas últimas sessões do mercado londrino (Brent), que serve de referência para as vendas nacionais, o barril chegou aos 80 USD, mas, segundo o relatório da ONU, esse preço elevado não vai ser suficiente para compensar as perdas na produção que, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE) deve chegar aos 1,29 milhões de barris por dia (mbpd) dentro de cinco anos, estando hoje em torno dos 1,6 mbpd.

Isto tudo se deve ao facto de, apesar das demonstrações de vontade, ano após ano, de investir forte na diversificação da economia nacional, libertando-a das exportações do petróleo - que representa mais de 90 por cento do total exportado pelo país - e dos diamantes, isso ainda não se traduziu em números que permitam libertar o país das grilhetas do crude, do qual a economia nacional, nota a ONU, "continua bastante dependente".

Por detrás desta realidade, que não abre grandes perspectivas para a economia nacional, está o facto de as multinacionais, e a própria Sonangol, terem iniciado um período de desinvestimento na pesquisa e produção logo após a queda abrupta do preço do barril em meados de 2014, por não ser financeiramente viável.

E as perspectivas tendem a não ser as melhores porque, num ambiente internacional de grande volatilidade, as multinacionais, se tiverem de investir, vão investir em geografias mais apetecíveis para a rentabilização imediata, como é o caso do Médio Oriente, onde o barril extraído custa menos de 8 USD, em média, quase um terço do que custa em Angola, onde o custo por barril produzido ronda os 18 dólares.

Recorde-se que a grande volatilidade nos mercados resulta essencialmente, como os analistas têm sublinhado, de factores de existência circunstancial, como sejam as crises com o Irão após os EUA terem rasgado o acordo nuclear e o regresso às sanções sobre as suas exportações de crude, a crise na Venezuela, - muito semelhante nas razões que levam à quebra angolana na produção - e ao acordo de cortes no âmbito da OPEP, que a partir de 01 de Janeiro desse ano diminuiu a produção diária em 1,8 mbpd como forma de retirar excedentes dos mercados e obrigar a uma subida dos preços.

Governo consciente da falta de investimento

Recentemente, o ministro dos Recursos Minerais e Petróleos, Diamantino Azevedo, deixou claro que o Executivo de João Lourenço está consciente do problema e da urgência de tomar medidas que permitam anular o desgaste provocado pela baixa do barril nos últimos anos no sector petrolífero nacional.

"O declínio na produção do petróleo deveu-se a falta de investimento nos segmentos da prospecção, pesquisa e exploração", disse Diamantino Azevedo no Kwanza Sul, admitindo que Angola "descorou estes investimentos" a que se veio juntar "o declínio natural dos poços".

O Governo sabe, como o ministro avançou, que o problema só será ultrapassado "com mais investigação e estudos para se obter reservas possíveis de serem exploradas", exigindo isso tempo e dinheiro para investir.

Lembrou que o Governo, nos últimos seis meses, produziu cinco diplomas legais para inverter esta situação que visa fomentar a prospecção, permitir a exploração de alguns depósitos já descobertos e a simplificação nos procedimentos administrativo para facilitar os investimentos.

Tudo isto para que seja possível contrariar as perspectivas da AIE, que aponta para uma severa diminuição da produção até 2023, ano em que Angola não produzirá mais de 1,29 mbpd, querendo, no entanto, o Executivo, evitar a todo o custo que a produção baixe dos 1,5 mbpd.

"Até ao fim da legislatura temos de assegurar que a produção do petróleo não baixa de 1,5 milhões barris pordia, uma vez que temos compromissos com a OPEP de 1,6 milhões barris/dia", esclareceu.

A este propósito, a analista de assuntos económicos com o pelouro de África nas Nações Unidas, Helena Afonso, citada pela Lusa, apontou ainda como razões para o declínio das perspectivas económicas de Angola para 2018 "a rápida desvalorização do kwanza no final de 2017 (que) tem continuado este ano e contribui para o elevado nível de inflação".

Esta economista considera ainda que "o influxo de migrantes da República Democrática do Congo constitui um desafio acrescido para o país".

Como janela de possibilidade para inverter este cenário pessimista, a economista da ONU responsável pelo acompanhamento das economias africanas apontou "a continuação da subida do preço do petróleo que poderia suscitar uma revisão em alta do crescimento nas nossas próximas previsões" sobre Angola, país que é responsável por 3,3% das exportações de crude no mundo e é o segundo maior exportador de petróleo em África.