Tal como Angola, com quem disputa periodicamente o lugar de maior produtor de petróleo em África, a Nigéria atravessa uma das mais graves crises económicas da sua história por causa da queda abrupta do preço do barril nos mercados internacionais, juntando-se a esta realidade o prolongado conflito no Delta do Níger, onde várias guerrilhas impedem o normal funcionamento da sua estrutura petrolífera.

A Líbia, depois da queda do regime e da morte de Muammar Kadhafi, em 2001, na sequência da "primavera árabe", viu a sua estrutura petrolífera desintegrar-se e a guerra civil espalhar-se pelo país.

Tanto a Nigéria como a Líbia, membros da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP), conseguiram, por causa das suas crises internas, ficar à margem dos cortes de 1, 8 milhões de barris por dia (bpd) assinado entre a organização e um conjunto de 11 países produtores não-membros, liderados pela Rússia, em finais de 2016 mas em vigor a partir de 01 de Janeiro deste ano.

Com estes cortes, esperava-se que a queda vertiginosa do preço do barril, que em Fevereiro de 2016 bateu na casa dos 20 dólares, fosse revertida e chegasse aos, como Angola queria, 70 USD. Assim não aconteceu.

O melhor que se viu, na perspectiva dos países produtores, foram os 57 USD do primeiro trimestre deste ano, tendo, desde então, invertido o ciclo de subidas para estar agora estacionado, no caso do Brent londrino, que serve de referência para as exportações angolanas, nos 46 USD, muito aquém daquilo que o ministro dos Petróleo, Botelho de Vasconcelos, gostaria de ver, que é o barril a valer entre os 60 e os 70 dólares, considerado "um preço que não seria mau" para as actuais circunstâncias.

Perante este cenário, e depois de, num esforço ainda maior, a OPEP+Rússia terem prolongado o acordo, que deveria vigorar até Junho deste ano, para Março de 2018, com resultados apenas sofríveis, para aumentar os cortes, optaram por convocar a Nigéria e a Líbia para esse esforço, embora ainda sem quantificar qual deverá ser a sua participação que, por exemplo, no caso de Angola, com uma produção semelhante à da Nigéria, foi de 78 mil bpd.

As afirmações recentes de Khalid al-Falih, ministro dos Petróleo da Arábia Saudita, o maior produtor mundial, com cerca de 11 milhões bpd, apontam para que, pelo menos, seja considerado pela Nigéria e pela Líbia, cujas produções têm estado a aumentar coerentemente nos últimos meses, colocar uma "rolha" nos seus blocos e poços no que toca a mais barris injectados nos mercados.

Até porque à OPEP não resta mais nenhuma medida de efeitos imediatos, para além de mais cortes, que não seja controlar as produções destes dois países africanos, considerando, claro, que as outras causas para o emperrar da subida do barril estão fora do seu controlo, como sejam a crescente produção norte-americana, tanto tradicional como a produção na área do petróleo de xisto, ou "fracking".

A Líbia com mais 80 mil barris em Junho que os 730 mil bps de Maio, e mais 50 mil em Junho que os 1,78 milhões bpd de Maio na Nigéria, significa que dentro do "cartel" pelo menos 120 mil barris dos 1, 8 milhões cortados, estão a ser "consumidos" interpares, sendo que os dois produtores e membros da OPEP estão a colocar nos mercados mais 380 bpd que em Outubro do ano passado devido ao esmorecer das suas crises internas e à relativa pacificação.

Perante esta circunstância que pode ser considerada estranha, onde países membros da OPEP estão a minar o esforço da organização para fazer subir os preços e onde a Nigéria e a Líbia são dos mais beneficiados, a reunião dos signatários do acordo de 2016, marcada para 24 de Julho em São Petersburgo (Rússia), está a ser considerada como decisiva pela generalidade dos analistas.

Mas uma coisa é certa. Tanto a Nigéria como a Líbia dificilmente podem continuar de fora quando países como a Venezuela e Angola, igualmente a atravessar crises económicas severas, aceitaram dar o seu contributo para o esforço de baixa de produção para aumentar o preço do barril.

E o recado já foi dado pelo ministro dos Petróleo do Kuwait, Issam Almarzooq, que, em declarações à agência Bloomberg, disse que se a Nigéria e a Líbia conseguirem estabilizar as suas produções nos níveis actuais, vamos pedir que esse seja o seu limite e, como tal, não deve ser ultrapassado.

Já por parte do ministro dos Petróleos da Nigéria, Emmanuel Ibe Kachikwu, parece haver abertura para contribuir, embora tenha dito que não se oporá se verificar que essa decisão é sustentável, tendo em conta novas ameaças à estabilidade do Denta do Níger, que funciona para a Nigéria como Cabinda funciona para Angola em matéria de produção de crude.

O Governo líbio ainda não se pronunciou especificamente sobre a situação actual, mas em declarações anteriores não fechou a porta a uma adesão ao esforço da organização que integra para fazer engordar o preço do barril que teima hoje em ficar mesmo abaixo dos 47 USD, situando-se o Brent, por volta das 11:40 de hoje, nos 46, 60 dólares norte-americanos