Mostrando preocupação com esta situação, Maria Antonieta Baptista, em declarações à TPA, afirmou que o peixe que Angola está a comprar no estrangeiro, pago com "divisas do Estado" está a ser comercializado no Luvo, o que é "uma surpresa" para o Executivo.

"Saímos de manhã (no Sábado) sem avisar e fomos ao porto de Luanda onde assistimos à descarga de duas mil toneladas de peixe", explicou acrescentando que, de seguida, foi a alguns armazéns onde encontrou "camiões carregados a saírem para o Luvo".

A venda de camiões carregados de peixe, especialmente peixe seco, no Luvo para comerciantes congoleses não é um negócio novo e já ocorre há vários anos, sendo aqui a novidade o facto de parte desse peixe ter sido importado, com gasto das escassas divisas que o país possui.

Segundo a titular do sector das pescas, "quem vende não se importa porque quer dinheiro", mas alertou para o facto de as mercadorias angolanas vendidas no Luvo destinam-se ao país vizinho e no caso do peixe importado devia, naturalmente, ser comercializado em Angola.

Maria Antonieta Baptista reconheceu que existe falta de fiscalização nas fronteiras, mas garantiu que o Ministério que dirige esta a bater na tecla para que se faça um trabalho transversal entre diversos organismos nos postos fronteiriços, admitindo a possibilidade de criar um sistema de fiscalização na área das pescas.

De acordo com a ministra, os comerciantes não se inibem com a falta de licença de exportação e preferem pagar multas de 30% na Administração Geral Tributária (AGT) e levarem o peixe para fora das nossas fronteiras, porque é mais lucrativo.

"Se não se acabar com esta situação, com a saída irregular de peixe para o exterior, a nossa segurança alimentar começa a ficar ameaçada em termos de quantidade e de qualidade", frisou.

Como contou ao NJOnline alguém que conhece bem a realidade do mercado do Luvo, o negócio do peixe para a DC a partir deste mercado fronteiriço é em grande parte resultado da escassez de moeda estrangeira em Angola.

Em Angola não há dólar mas há peixe e outros bens alimentares, como os combustíveis ou álcool (cerveja, especialmente), mas do outro lado da fronteira existe uma maor abundância de moeda estrangeira, mas, devido à escassa rede rodoviária e às grandes distâncias sem infra-estruturas, falta quase tudo e o peixe, nomeadamente peixe seco, é alvo de grande procura.

Esta mesma fonte disse ao NJONline que, por vezes, os compradores congoleses não pagam apenas a carga, ficam igualmente com os camiões de transporte do peixe, pagando tudo em dólares nore-americanos.