Os armadores de pesca semi-industrial e industrial estão agastados com o aumento do preço do gasóleo para as suas embarcações e acusam a Empresa Portuária de Pesca de Angola (Pescangola) - responsável por abastecer os barcos - de má-fé.

Segundo os armadores, desde Janeiro deste ano que o preço do gasóleo não pára de aumentar valendo agora mais 50 kwanzas por cada litro, em relação aos primeiros dias do ano, um aumento de quase 40%.

"No início do ano, pagávamos 133 kwanzas o litro. Em Fevereiro, fomos notificados de que passaríamos a pagar 168 e em Abril voltaram a aumentar para 183 kwanzas, e não sabemos se fica por aqui", disse um dos armadores de pesca semi-industrial e industrial.

O homem do mar explicou que, até ao final do ano passado, o gasóleo para as embarcações tinha uma subvenção de três kwanzas por litro, que foi retirada com a entrada da nova administração da Pescangola.

"A nova administração acabou com a subvenção de três kwanzas que tínhamos e tem fixado os preços a seu belprazer", disse.

Mais do que isso, lamenta o armador, é o facto de o gasóleo para a pesca estar mais caro que o gasóleo para viaturas e outros fins, e neste caso o litro é vendido a 135 kwanzas em todos os postos de abastecimento do país.

"Não entendemos como é possível a Pescangola, que é uma empresa pública, vender o litro de gasóleo mais caro que nos postos de abastecimento normais. E esta realidade só é vivida em Luanda. Em outras províncias, como Benguela e Namibe, os armadores não pagam 183 kwanzas o litro. Pagam menos", lamenta o armador.

Para agravar a situação, os armadores em Luanda apenas podem abastecer as embarcações no posto da Pescangola, situação que, no entender dos homens do mar, fere o princípio da concorrência.

"Aqui não temos outro local para abastecer. Somos obrigados a comprar-lhes o combustível e não temos alternativa. Não há concorrência! Fora de Luanda, ainda se pode comprar na Sonangol ou em outro fornecedor. Mas aqui não", lamenta.

Segundo os armadores, esta situação tem feito com que colegas seus abandonem o país devido às dificuldades agravadas pela falta de divisas.

"Alguns armadores já deixaram o país e foram operar em países como Senegal, Ilhas Maurícias e Namíbia. Por exemplo, o grupo FreiMar tinha aqui seis barcos de grande porte e retirou-os todos. Foi para a Espanha e Senegal", disse, incomodado, o nosso interlocutor.

Com o período de venda a chegar ao fim (30 de Junho), os armadores adensam as suas preocupações e incertezas sobre a nova época de pesca.

PCA da Pescangola explica preços

"A continuar assim, não sabemos onde vamos parar. Os custos com o gasóleo são elevados. Estamos a falar de mais de 10 milhões de kwanzas. Mas temos outros custos com as embarcações, porque a maioria delas são operadas por técnicos estrangeiros", concluiu o armador de pesca semi-industrial e industrial com mais de 20 anos de alto-mar.

Em entrevista ao Novo Jornal, Sebastião Alfredo Macunge, presidente do conselho de administração da Pescangola explica que "tem ancorado o seu preço ao custo de aquisição", acrescentando que o único fornecedor é a Sonangol.

"Compramos o produto à Sonangol e temos que ter capacidade de voltar a pagar. Porque se não pagarmos, ficamos em dívida com a empresa e ficamos sem o fornecimento do produto como já aconteceu. Esta é a realidade".

(Leia a entrevista a Sebastião Macunge na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)