Ao olhar para o gráfico que mostra as oscilações do preço do barril de Brent desde o início de Janeiro, quando o novo coronavírus começou a infectar a economia mundial a partir da cidade chinesa de Wuhan, o que fica em evidência é uma prolongada queda dos 68 USD de 06 de Janeiro para os 24 dólares de 01 de Abril e depois uma igualmente inusitada subida de 30% até hoje, sem que, do ponto de vista da economia global, e do combate planetário à pandemia, nada o tenha justificado, sendo o combustível para a queda e para o revigoramento meras e circunstanciais declarações dos dirigentes sauditas, russos e norte-americanos.

Desde a guerra de preços entre russos e sauditas iniciada a 06 de Março, depois de Moscovo não ter alinhado na intenção de Riade em aumentar substancialmente os cortes para retirar a pressão negativa sobre a matéria-prima, passando pelo anúncio estranho de Donald Trump no Twitter de que tinha convencido a Rússia e a Arábia Saudita a cortarem até 15 milhões de barris por dia (mbpd), prontamente desmentido por ambos, até à tentativa de recomeço com a convocação de uma reunião de urgência da OPEP+ por Riade, o mundo do petróleo não tem tido sossego e os altos e baixos não são para os estômagos mais sensíveis.

Mas, como as agências e os sites especializados sublinharam na, terça-feira, 07, a subida de 2,24% no valor do barril em Londres, para 33.76 USD, cerca das 10:30, era resultado directo da esperança de que um acordo seja alcançado em breve no seio da OPEP+, a organização criada em 2017, que junta a Rússia e mais 10 produtores independentes à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), para cortar a produção global de forma a combater a pressão em baixa da crise pandémica.

Jà hoje, quarta-feira, 08, o Brent manteve a mesma toada, mesmo que mais ligeira ainda, a subir 0,16 %, para 31,09 USD por barril, cerca das 11:00.

Isso, apesar de o risco de uma recessão profunda e prolongada ser agora mais provável que nunca, se o vírus continuar a alastrar.

Quinta-feira mágica

Quinta-feira parece ser agora o dia de todos os perigos e de todas as expectativas, porque russos e sauditas acordaram em se sentarem à mesa nesse dia, embora, sublinha a Reuters, citando fontes do "cartel", tudo vai depender de os EUA, o outro gigante do pódio dos produtores globais, aderir a um eventual corte, como, de resto, estava subjacente quando Donald Trump avançou com a meta dos 15 mbpd de cortes, visto que tamanho montante a retirar dos mercados apenas pela Rússia e pela Arábia Saudita era simplesmente irrealizável.

Mas com a junção dos EUA, sendo que os três ostentam um potencial de produção acima dos 11 mbpd, faria com que os 15 mbpd passa-se a exequível, embora ainda aquém dos 25 a 30 mbpd que a Agência Internacional de Energia estima terem sido enxugados da procura em consequência da crise económica gerada pela Covid-19. No entanto, é um passo importante, sublinha a generalidade dos analistas.

Mas, fica certo e seguro que a melhor solução seria o surgimento de uma vacina ou de um tratamento eficaz contra a Covid-19, o que resultaria no afastamento da pressão da pandemia sobre as economias, com o regresso da mobilidade, da reabertura das unidades produtivas, fábricas, empresas etc., e, não menos importante, a retoma dos transportes aéreos e marítimos, ambos responsáveis por quase 20% do petróleo consumido em todo o mundo.

O risco agora é se, mais uma vez, esse acordo abrangente não é conseguido na reunião de quinta-feira e, se assim suceder, o risco apontado pelas grandes casas financeiras, como a Goldman Sachs ou o Barclays, de que o barril pode passar em baixa os 10 USD passa a ser real.

Quinta-feira passa, assim, a ser o dia em que os países mais dependentes das exportações de crude, como Angola, vão saber se podem voltar a respirar de alívio ou se o sufoco vai ser ainda maior.