O aumento, que pode ir dos 300 mil aos 1,5 milhões de barris por dia (mbpd), já foi dado como quase certo pela Arábia Saudita e pela Rússia, os dois gigantes mundiais agregados na estratégia implementada em Janeiro de 2017 para cortar 1,8 mbpd como forma de equilibrar os mercados, diminuindo o excesso de oferta, engordado os preços.

Khalid Al-Falih e Alexander Novak, ministros saudita e russo dos Petróleos, estão apostados em conseguir um acordo abrangente quando tiver lugar a reunião de Viena, no sentido de aumentar a produção, visto que - esse é o argumento - alguns estados membros viram as suas produções tombar mais que o esperado, como a Venezuela e o Irão, ou até Angola.

O Irão, já anunciou, tal como a Venezuela e o Iraque, que se oporá à intenção da Rússia e da Arábia Saudita, podendo, se a lógica for semelhante à da Venezuela, ser também essa a posição a assumir por Angola - embora a posição de Luanda seja ainda um segredo.

Teerão entende que o valor da produção não deve ser mexido porque lhe falta capacidade para aumentar a produção, não só porque deverá começar a sofrer em breve as sanções recuperadas pelos EUA após Trump ter rasgado o acordo nuclear de 2015, mas também porque ainda está longe de estar concluído o programa de reabilitação da sua infra-estrutura produtiva, deteriorada por falta de investimento ao longo doas anos das sanções ocidentais por causa da sua aposta em criar um arsenal nuclear.

Já a Venezuela, cuja situação se assemelha à de Angola, embora bastante mais grave porque vive também uma crise política sem precedentes, vai igualmente bater-se contra o aumento da produção porque todo o seu aparelho extractor de crude foi desvitalizado por falta de investimento nos últimos anos devido à quebra acentuada do preço do barril em 2014, por desorganização interna, porque os seus técnicos, mal pagos, deixaram o país e porque o regime de Caracas não consegue tirar proveito daquelas que são consideradas as maiores reservas do mundo.

O Iraque segue a mesma linha, mas motivado pela incapacidade de aumentar a produção devido à destruição dos seus campos durante os longos anos de guerra e ocupação do território por grupos radicais islâmicos, como o estado islâmico (daesh).

Face a este cenário, onde as decisões no seio da OPEP são tomadas por consenso, e se Moscovo e Riade não conseguirem demover estes membros a aceitar o aumento de produção, num contexto mundial onde cresce a pressão para a injecção de mais crude nos mercados, como é disso exemplo o pedido expresso nesse sentido feito pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, que precisa de gasolina barata para os seus eleitores devido à aproximação de um novo período eleitoral, os analistas já admitem que a Rússia e a Arábia Saudita possam avançar a sós nesse sentido.

Isso mesmo parece ser o cenário alternativo em preparação depois de ter sido conhecido o pacto por tempo indefinido assinado entre os dois países, que visa, entre outras coisas, elaborar estratégias conjuntas para lidar com o complexo mundo do petróleo e das suas especiosidades.

Um bom exemplo disso é o facto de Khalid Al-Falih já ter admitido como imperiosa necessidade manter a produção do "fracking", ou petróleo de xisto, controlada nos EUA para evitar que os mercados sejam inundados de petróleo, descambando os preços, como sucedeu em 2014.

Face a isto, Angola, ao que tudo indica, deverá manter-se atenta ao evoluir das conversações, sendo que também é do seu interesse, para já, manter a produção nos actuais níveis, não só porque os preços são bons para a sua economia - o OGE foi elaborado com base no barril a 50 USD e este está hoje a ser transaccionado acima dos 74 -, como também enfrenta uma séria incapacidade de aumentar de um dia para o outro a produção devido à deterioração da sua infra-estrutura produtiva motivada pelos anos de abandono das multinacionais por causa dos valores insignificantes do petróleo entre 2014 e finais de 2017.

Alias, Angola, apesar dos esforços em curso para reabilitar a produção, com incentivos fiscais sérios às companhias, deverá atravessar uma fase complexa até 2023, período no qual a Agência Internacional de Energia prevê uma queda na produção dos actuais 1,55 mbpd para os 1,29 mbpd.

Para já, no meio de pesadas dúvidas, assiste-se ao regresso das incertezas no seio da OPEP, o que já não acontecia há muitos anos, podendo isso ser o combustível para uma nova crise global e, no caso de Angola, um travão à recuperação económica a que se assiste, devido à ainda evidente dependência do crude e à clara falta de avanço na diversificação projectada da economia nacional.