Dois dos países acusados de estarem a colocar em causa a estratégia de corte que visa controlar os preços do barril em alta são a Nigéria e o Iraque que estão a produzir, no conjunto, mais cerca de 350 mil barris/dia, a Nigéria 1,84 milhões barris por dia (mbpd) quando devia quedar-se pelos 1,65 mbpd, enquanto o Iraque solta no mercado 4,80 mbpd quando se devia ficar pelos 4,65 mbpd.

A montanha russa em que estão transformados os gráficos que mostram a evolução do preço do barril resulta de permanentes tumultos nos mercados, sendo disso exemplo o facto de o barril de Brent, transaccionado em Londres, e que define o valor médio das exportações angolanas, ter tombado de ontem, quarta-feira, para hoje, quinta-feira, quase 3 dólares, de 63 USD para os 60,19 às 10:50 de hoje, depois de o Presidente norte-americano ter voltado a surpreender no seu olhar sobre o Irão, mostrando disponibilidade para aliviar as sanções sobre o gigante persa do Médio Oriente.

Mas esta não é a única novidade que levou os ministros da Energia dos Governos de Moscovo e de Riade, Alexander Novak e Abdulaziz bin Salman, a ancorar este apelo aos parceiros na denominada OPEP+ para manterem a produção sob restrito controlo: as estimativas de procura de crude para 2020 e além estão a ser revistas em baixa a um ritmo que assusta os países produtores mais dependentes da matéria-prima, como é o caso de Angola, mas, ainda de forma mais acentuada, por exemplo, o gigante da produção mundial Arábia Saudita.

Este apelo tem como pano de fundo, como recordam as agências de notícias, a forma como, pela primeira vez, o ministro dos Petróleos do Iraque, Thamer Ghadhban, ter vindo a público propor que a OPEP+ aprofunde os cortes ainda mais - actualmente este órgão ad hoc está a suprimir ao mercado 1,2 mbpd - por causa do impacto da guerra financeira EUA-China, entre outros argumentos, na queda do consumo global de crude e da subsequente baixa de preço do barril.

Isto, apesar de o Iraque ser um dos países que não está a cumprir com as metas com que se propôs, de fixar a sua produção em 4,65 mbpd estando a injectar nos mercados pelo menos 4.8 mbpd, em claro contramão com as declarações do seu ministro.

Mas esse veemente apelo surge ainda num contexto internacional em que a Agência de Informação Petrolífera dos Estados Unidos acaba de anunciar uma nova revisão em baixa para o consumo médio de crude já para este ano, de apenas mais 0,9 mbpd contra a anterior estimativa de 1,1 mbpd, que já era resultado de uma igual revisão em baixa que, no início do ano estava no crescimento de 1,5 mbpd em 2019.

E até a OPEP, que aumentou a sua produção diária em mais de 130 mil bpd em Agosto, está a rever a estimativa de consumo média para este ano, passando de 1,0 mbpd para pouco mais de 0,9 mbpd, igualmente em resultado da diminuição da procura mundial que, na média dos últimos anos, se situa entre os 92 milhões de barris por dia e os 93 mbpd.

Face a isto, a OPEP+, que tem hoje todos os seus ministros que tutelam a área dos petróleos e gás natural, em Abu Dhabi, para fazer a monitorização periódica dos mercados, segundo admitiram Novak e Abdulaziz, podem falar sobre a possibilidade de novos cortes, embora os mesmos ministros tenham sublinhado, em confronto com os parceiros, que antes de aprofundar os cortes, estes têm de cumprir com as metas acordadas anteriormente e que em alguns casos, como o da Nigéria e do Iraque, estão muito acima desses valores.

Tudo isto num contexto em que são cada vez mais as vozes a levantar a certeza de que a OPEP+ vai ter de aprofundar os cortes em 2020, como é o caso da Goldman Sachs, por causa do impacto negativo na economia da guerra comercial China-EUA, entre outros, como o amento da produção do petróleo de xisto "fracking" nos EUA.

Recorde-se, como o NJOnline noticiou na quata-feira, que o Banco Central da Rússia, por causa destes factores, admite a possibilidade de o barril descer vertiginosamente em 2020 para os 25 dólares norte-americanos.