O sucesso da estratégia de Donald Trump mede-se pelo preço actual do barril de crude, que, desde o seu valor mais alto em quase quatro anos, de 85 USD, atingido em Outubro, já caiu mais de 20, estando hoje, a meio da manhã, a ser vendido o barril de Brent, em Londres, que define o valor das exportações angolanas, a 63,41 USD, valor que é uma forte dor de cabeça para o Governo angolano.

Isto, não só porque a economia nacional depende largamente da matéria-prima - como ficou provado em 2014, quando uma descida abrupta deu lugar à profunda e prolongada crise que ainda se vive e deixando claro que todos os enunciados esforços para diversificar a economia deram resultado nulo -, mas essencialmente porque a equipa económica do Executivo de João Lourenço elaborou o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019 com o valor médio do barril definido em 68 USD.

E este cenário, que coloca uma sombra de dúvida sobre o evoluir da economia nacional, é o resultado, pelo menos numa boa parte, da estratégia definida no início deste ano pelo patrão da Casa Branca, quando disse exactamente ao que andava no que toca à política energética global: o petróleo tinha de ficar mais barato, desse por onde desse.

E as baterias de Trump foram imediatamente apontadas para a Arábia Saudita, a quem pediu directamente para aumentar a produção e obrigar os seus aliados da OPEP a fazer o mesmo, de forma a fazer descer o preço do barril.

A Arábia Saudita conta, desde sempre, com os Estados Unidos para desequilibrar a seu favor a balança fina da geopolítica no Médio Oriente, onde também está o Irão, o seu arqui-inimigo, e dificilmente poderia negar o pedido de Trump quando este estava a escassos meses das importantes eleições intercalares que tiveram lugar a 08 deste mês.

Assim fez, aumentando a produção entre 500 mil e 1 milhão de barris por dia (mbpd) em Julho, levando à derrocada da estratégia da OPEP e da OPEP+, sigla criada com a colaboração da Rússia - o 3º maior produtor do mundo, atrás dos EUA e da Arábia Saudita - e mais 11 países produtores não-membros, em finais de 2016 para, em Janeiro de 2017, cortar 1,8 mbpd de forma a inverter a derrocada que tinha sido iniciada em 2014 e levou o barril a valer menos de 30 USD no 1º trimestre de 2016.

Mas a ideia de Riade, como o ministro dos Petróleos saudita, Khalid al Falih, deixou claro quando o barril começou a resvalar, era voltar a cortar a produção, tendo, para isso, a OPEP+ reunido há duas semanas em Abu Dhabi, em resposta aos severos protestos dos restantes membros do "cartel", tendo saído deste encontro de urgência a ideia de um corte já em Dezembro na produção semelhante ao aumento verificado recentemente.

A verdade é que o aumento de produção saudita e da Rússia, que também cedeu à pressão de Washington, levou a um novo cenário de excesso de oferta, permitindo aos EUA e às outras grandes economias acumular reservas significativas, com o Instituto Americano do Petróleo a divulgar aumentos semanais dos stocks no valor de milhões de barris, tendo, só na semana passada, aumentado mais de 3,5 milhões de barris.

E não existe prova mais concreta que os aumentos das reservas das grandes economias para deixar claro que os mercados estão a viver um novo excesso de oferta face à procura, o que só pode resultar, pelo menos em grande parte, do aumento de produção saudita e russo.

A pergunta que paira sobre este cenário é: porque é que, então, os sauditas e os russos, não voltam a cortar a produção, como ficou, de resto, decidido na última reunião da OPEP+ de Abu Dhabi?

Porque Donald Trump, segundo diversos analistas, decidiu voltar a pressionar a Arábia Saudita, aproveitando o escândalo quer foi a morte do jornalista dissidente saudita e exilado nos EUA, Jamal Khashoggi, no consulado do seu país em Istambul, na Turquia, por um comando enviado por Riade e que, como estrategicamente revela um relatório da CIA que "escapou" para a imprensa norte-americana, apesar de a corte saudita negar veementemente, teve como ordenante maior o príncipe herdeiro bin Salman (na foto, com Trump).

Face a isto, e depois de garantir que os EUA, num contexto mundial de grande consternação, iriam declarar pesadas sanções a Riade, eis que Donald Trump volta atrás e decide que a aliança com a Arábia Saudita é mais importante, colocando-se ao lado do seu maior aliado - a seguir a Israel - no Médio Oriente, recusando ir mais longe na condenação e na exposição da culpabilidade do 2º na linha do poder na monarquia absoluta saudita no assassinato de Jamal Khashoggi.

Perante isto, uma informação foi claramente entendida pelos mercados: a Arábia Saudita vai continuar a fazer a vontade a Donald Trump, influenciando a OPEP e a OPEP+, de forma a manter o preço do barril de petróleo em baixa, enquanto Trump, contra tudo e contra o mundo, faz finca-pé ao lado do poder de Riade.

A solidez deste cenário será facilmente testada já no início de Dezembro, altura em que deverá ter início o novo plano de cortes na produção saudita decidido na recente reunião de Abu Dhabi, com um corte inicial de 500 mil barris por dia, que se deverá alongar até 1 milhão de barris por dia no início de 2019 e ainda porque a OPEP volta a reunir os seus lideres na sede da organização em Viena de Áustria, para debater o problema.

E, como é natural, para Angola, cuja robustez da economia depende ainda em grande escala das exportações de petróleo, o resultado desta reunião de Viena terá uma importância enorme.