O primeiro passo para a chegada da Saudi Aramco aos mercados, a iniciar pela bolsa saudita, foi dado com o anúncio dessa intenção por parte do Ministério da Energia e o segundo foi conhecido nas últimas horas, como a Autoridade do Mercado de Capitais saudita ter anunciado a aprovação do pedido da Saudi Arabian Oil Company para vender uma pequena parte das suas acções que pode valer, apesar disso dezenas de milhares de milhões de dólares.

Estes valores astronómicos só são possíveis porque a Aramco tem nas mãos as reservas sauditas, que são as segundas maiores do mundo, a seguir às da Venezuela, sendo o maior exportador do mundo e ainda com no seu catálogo de items valiosos as maiores refinarias do mundo, como é o caso da Abqaiq, que foi atacada por mísseis dos rebeles Houthis em Setembro.

Com este movimento, que está a mexer como nenhum outro os mercados bolsistas mundiais em meses, o Governo do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman pretende conseguir convencer os mercados de que a Aramco valie muito mais que aquilo que estavam dispostos a pagar em 2018, quando, pela primeira vez, esta venda parcial do gigante saudita do petróleo global foi tentada e retirada pelo "fraco" interesse demonstrado.

Para já, a primeira fatia deste apetecível "bolo" vai chegar, como está previsto, nas próximas semanas, à bolsa local, e, depois, provavelmente no primeiro trimestre de 2020, numa praça internacional, estando as agências a falar na possibilidade de Hong Kong como a mais provável.

Para já, e apesar de o anúncio, a Aramco não detalhou as eapas desta venda nem sequer os valores, mas fontes citadas pela Reuters apontam para que seja entre 1 e 2 por cento das acções na bolsa local, o que pode significar até 40 mil milhões USD.

Esta Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla em inglês) vai ser dividida em duas tranches, uma para o mercado institucional e uma para investidores individuais.

Dinheiro para diversificar a economia

O que vai a Arábia Saudita fazer com tanto dinheiro é a pergunta que sobrevoa os mercados mundiais, porque tanta entrada nos cofres de um país gera apetites em todo o mundo devido às oportunidades que gera.

Mas a resposta surgiu célere: é para investir até ao último centavo na diversificação da economia saudita como o príncipe bin Salman tem dito amiúde ser a sua principal prioridade, porque o país tem consciência de que a dependência do petróleo, se nada for feito, pode conduzir, no futuro, Riade à irrelevância e à pobreza.

Alias, os ataques de 14 de Setembro à refinaria de Abqaiq e ao campo petrolífero de Khurais, deixou bem claro que o reino saudita tem uma dependência da exportação de crude que pode revelar-se trágica no futuro.

Outra coisa que os sauditas têm afirmado com abundância é que as suas contas públicas estão a atravessar um grande desequilíbrio e só um barril de crude a valer mais de 85 USD poderia voltar a equilibrar as contas públicas.

É para reverter esta dependência que os biliões a encaixar com a venda da Aramco vão servir.

Alguns analistas admitem que se este processo for bem conduzido e os sauditas conseguirem encontrar alternativas à riqueza que resulta da venda de petróleo, como, por exemplo, a aposta nas energias alternativas, isso pode levar os outros produtores mundiais relevantes a encetar uma corrida à fuga à dependência da matéria-prima porque esta movimentação saudita será um contributo decisivo para a progressiva perda da sua actual importância estratégica.

Essa diversificação é ainda essencial para a defesa dos interesses regionais porque os ataques de Setembro vieram por a descoberto as fragilidades do país.