Por detrás das boas perspectivas que, um pouco por todo o lado, surgem para 2021, seja em análises de especialistas publicadas pelos sites especializados, seja pelas grandes casas financeiras, está a esperança de que as vacinas já anunciadas, com quatro delas com eficácia garantida de mais de 90%, possam erradicar a pandemia da Covid-19, responsável pela actual crise global, a maior desde o crash bolsista de 1929.

Se a Covid-19 desaparecer do mapa, a economia planetária, como apontam alguns dos principais analistas dos mercados petrolíferos, volta a ter as condições pré-pandémicas que permitiram valorizações do barril de crude na casa dos 70/80 USD, somando ainda o efeito psicológico, fundamental no negócio global da energia, cujos efeitos são muito difíceis de prever mas que podem catapultar a matéria-prima para valores que não se vêem há muitos anos.

A ajudar a esta "festa" prometida, a OPEP+, a organização que junta os Países Exortadores (OPEP) e os seus aliados, liderados pela Rússia, que desde 2017 unem esforços ao "cartel" para reequilibrar os mercados, com a já anunciada extensão do actual plano de cortes de 7,7 milhões de barris por dia (mbpd) pelo menos até Março de 2021 quando, se fosse cumprido o que está plasmado nos acordos, a 01 de Janeiro esta quantidade deveria descer para os 5,7 mbpd.

Isso mesmo ficou claro como possibilidade na passada semana, quando os órgãos técnicos da OPEP e da OPEP+ estiveram reunidos, tal como o comité ministerial de acompanhamento, sendo que no fim do mês corrente, as duas organizações vão estar de novo reunidas por videoconferência de forma a confirmar estas informações, não havendo, segundo as agências, questões soltas que possam perigar este desfecho, excepto aquilo que vier a acontecer de forma inusitada neste entretanto.

Face a este contexto histórico e as fortes expectativas de um ano excepcional para o sector se a pandemia for, efectivamente debelada, ou começar a ceder aos tratamentos, o Brent, em Londres, onde é definido o valor médio das exportações nacionais, estava hoje, perto das 10:00, a valer 46,01 USD por barril (mais 2,34% que no fecho da última sessão), um valor que já não se via desde os primeiros dias de Março, já lá vão quase nove meses, significando que a medida padrão está a aproximar-se a valores pré-pandémicos, de forma acelerada.

No WTI de Nova Iorque, o barril estava, à mesma hora, referência de Luanda, nos 43, 30 USD, mais 2,07% que no fecho de sexta-feira, batendo igualmente recordes de Março último, o que permite, unindo os dois lados do Atlântico, elaborar uma ideia bastante sólida de um movimento sustentável de ganhos para o sector petrolífero, brutalmente atingido pelos efeitos nefastos da pandemia sobre as maiores economias do mundo desde o final do primeiro trimestre deste ano, apesar de o vírus ter sido descoberto em Dezembro, na China.

Só na semana passada, já sob o efeito evidente dos anúncios de várias vacinas, como o Novo Jornal tem noticiado aqui, aqui ou, ainda, por exemplo, aqui, o barril, entre o Brent e o WTI, engordou mais de 5%.

Esta solidez resulta ainda reforçada pelo facto de os mercados bolsistas estarem, tanto na Europa, como nos EUA, na China ou no Japão, a absorver bem todo este caramanchão de notícias sobre a eficácia de várias vacinas igualmente de forma positiva, com subidas marcantes na abertura de hoje, um prenúncio de recuperação da economia mundial.

A melhorar ainda mais esse sentimento está o facto de algumas das vacinas, como a da Pfizer poderem estar disponíveis ainda este mês para os grupos profissionais considerados de maior risco nos EUA, como o pessoal médico e as forças de segurança, entre outras.

Em suma, o surgimento de múltiplas notícias sobre vacinas eficazes produzidas pelas grandes farmacêuticas mundiais como a dos consórcios Pfizer/BioNtech, AstraZeneca/Oxford ou ainda a da Moderna, mas também as que surgem com chancelas nacionais como a russa Sputnik V ou a chinesa Coronavac, estão a esmagar os efeitos da gigantesca segunda vaga da Covid-19 em todo o mundo, cuja taxa de infecções em todo o mundo bate recordes diariamente, especialmente nos EUA, Europa e Brasil.

No entanto, alguns riscos existem no horizonte e para os quais os analistas menos optimistas têm igualmente camado a atenção, desde logo descontando o efeito de um possível excesso de optimismo, mas não só.

E este não só é quase tudo o esforço logístico gigantesco que o mundo vai ter de fazer para conseguir levar pelo menos 4 mil milhões a 5 mil milhões de vacinas, nalguns casos em duas doses, que representa cerca de 70% da população mundial, o mínimo considerado essencial pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para garantir a chamada imunidade de grupo.

Para isso, segundo alguns cálculos feitos por especialistas, vão ser necessários meios só comparáveis à logística montada na II Guerra Mundial, ultrapassando mesmo esse valores já de si pantagruélicos, desde logo milhares de aviões de carga, largas centenas de navios, camiões pesados e veículos ligeiros todo-o-terreno para que as vacinas possam chegar a alguns dos cantos mais inacessíveis do planeta.