Face a esta realidade, a Arábia Saudita, que produz 11 milhões de barris por dia (mbpd), aos quais já cortou uns milhões, prepara para assumir ainda mais cortes, possivelmente mais 600 mil bpd, como forma de obrigar os mercados a agir em conformidade com as leis da oferta e da procura: fazer subir o preço criando condições para gerar escassez do produto.

Mas também a Nigéria, o maior produtor africano, decidiu ir ao arsenal de medidas possíveis buscar a artilharia pesada para ultrapassar o problema, deixando de lado a excepção que os restantes membros da OPEP abriram porque o país atravessa uma grave crise financeira, à qual se junta uma crise bélica no Delta do Níger, aceitando passar a contribuir para o esforço de redução da oferta de crude nos mercados internacionais.

Esse esforço, apesar de escasso, porque é de não passar a linha dos 1,8 mbpd, sendo o seu potencial superior aos 4 mbpd, tem o acrescento do simbólico, porque denota o empenho mesmo dos mais aflitos.

Sabe-se que o acordo de Viena de Áustria, assinado pelos países cartelizados e a Rússia, onde se juntaram, entre outros, México e Cazaquistão, para cortar 1,8 milhões de barris por dia, permitiu aliviar a pressão da casa dos 20 USD onde o barril estava atolado nos primeiros meses de 2016, levando-o para próximo dos 50.

Mas é também um facto que este alívio ficou muito aquém dos objectivos que, por exemplo, no caso de Angola, que contribuiu com um corte de 78 mil bpd, eram de levar o barril para algures entre os 60 e os 70 USD, como o afirmou publicamente o ministro dos Petróleo, Botelho de Vasconcelos, quando, citado pela Reuters, disse que acima dos 60 dólares "não seria mau".

Mas os pouco mais de 48 dólares actuais têm feito com que a OPEP e os russos sejam mesmo ridicularizados por alguns analistas mais próximos dos interesses de Washington, que chegam a dizer que o mercado internacional do petróleo tem vida própria e move-se em sentido contrário à vontade do cartel.

Face a isto, e sabendo que têm, se não a faca e o queijo na mão, pelo menos têm o garfo com que pretendem furar este status quo, os países da OPEP, que reuniram extraordinariamente com os seus aliados neste "pipeline" estratégico em São Petersburgo, Rússia, com os sauditas à frente, estão dispostos a retirar ainda mais uns quantos milhares de barris de circulação já a partir de Agosto com a convicção de que a resistência dos mercados vai, finalmente, ceder, e o petróleo vai subir para onde pretendem.

Um dos efeitos pretendidos é enxaguar os stocks norte-americanos ainda mais, visto que já há alguns meses têm dado sinais de sistemática redução semanal, também porque o alternativo petróleo de xisto, ou "fracking", tem vindo a ceder aos baixos custos do barril e aos altos custos de produção.

Evidente é já que os mercados estão a reagir e permitiram uma semana quase integral de subidas diárias, estando a ser negociado em Londres (Brent), que determina o valor das exportações angolanas, acima dos 50 USD.

Boas novas vindas da Rússia

E, para que não restem dúvidas e os mercados acordem para a realidade, o ministro da Energia russo, Alexander Novak, veio nas últimas horas, e já depois do "meeting" de São Petersburgo, lembrar que a estratégia da OPEP retirou 350 milhões de barris da oferta nos últimos seis meses, o que é o mesmo que dizer que as economias compradoras ou, mistas, como é o caso dos EUA, tiveram de ir, senão no todo, pelo menos em parte, buscar esta perda às suas reservas par evitar que o mercado fizesse o que seria normal: aumentar o preço em coerência com a escassez.

E se essa resposta, de encolher as reservas próprias, tem servido até aqui, o que Novak pretendeu sublinhar é que se a OPEP+Rússia aumentarem ainda mais os cortes, como vai suceder, então em finais de 2017, os mercados poderão somar um possível défice de oferta superior a 800 ou 900 milhões de barris, impossível de suprimir com reservas.

Esta postura agressiva de Riade deve-se ao facto de a sua economia ser quase na íntegra dependente do petróleo e estar a ressentir-se como poucas da queda do barril dos 100 USD em 2014 para cerca de 23 em Fevereiro de 2016, querendo liderar esta ofensiva de forma a garantir o regresso da bonança.

Se assim for, Angola, cuja economia é igualmente afectada pelas oscilações do barril, será um dos países mais beneficiados, até porque é um dos maiores produtores africanos, o segundo, a seguir à Nigéria, com potencial de produzir pelo menos 1,8 mbpd, e porque, como lembrou recentemente a presidente da Sonangol, Isabel dos Santos, a petrolífera estatal tem conseguido reduzir de forma significativa o custo de produção, a ponta de considerar aceitável o barril à volta dos 45 dólares.

E as coisas parecem estar a andar bem para os interesses da OPEP e da Rússia porque, como relataram os media especializados a seguir a São Petersburgo, o ministro russo da Energia é quase sempre lacónico e agora está com outra cara e muito disponível para dar notícias, como quando afirmou que as reservas do mundo, "pela primeira vez em três anos", estão a cair de forma significativa.

Mas há ainda mais: sabe-se que a pesquisa por novas jazidas de petróleo, como também já lembrou Isabel dos Santos, estiveram, neste anos de baixos preço do barril, fora dos radares das multinacionais, como não acontecia desde a década de 1940, o que, como admitem os analistas e CEO"s dessas mesmas multinacionais, como a saudita Aramco, terá como resultado um défice de oferta em poucos anos.

Esse défice pode também ser contraproducente para a OPEP, porque instigaria as economias a investir ainda mais em tecnologia alternativa ao crude, facto para o qual também já existem indícios positivos, sob a perspectiva dos produtores, que são o aumento do investimento na procura nos últimos meses.

Face a isto, são já muitos os analistas que deixaram o grupo dos resilientes a aceitar a subida forte do preço do barril, para lá dos 70 ou ate 80 USD nos próximos três anos.