O mínimo que se pode dizer sobre o resultado do acordo que em Novembro do ano passado juntou os países da OPEP e alguns produtores não cartelizados, com destaque para a Rússia, o segundo maior produtor mundial a seguir à Arábia Saudita, que integra a organização, e os EUA, fora da OPEP mas uma das possíveis origens dos perigos, é que as coisas estão a correr bem, tendo em conta que os preços galgaram da casa dos 20 para os actuais 56 USD.

Mas, para evitar um refluxo na actual tendência de subida, a OPEP+Rússia têm um passagem estreita para percorrer. Como lembra Myra Saefong, uma especialista em mercados da Market Watch, se a OPEP e a Rússia seguirem o caminho da manutenção dos cortes, é evidente que os preços vão, pelo menos por uns tempo, manter a tendência de subida, mas isso vai levar a industrial petrolífera dos EUA, o segundo maior produtor do mundo, a aumentar a extracção, seja nas suas plataformas convencionais, seja na área do "fracking", ou no também chamado petróleo de xisto, o que, a prazo, levará a um pressão em baixa dos mercados por causa da subversão da lógia actual de menor oferta face à procura.

Já se a opção, cuja data limite para a tomada da decisão é Maio, onde os países OPEP e Rússia vão reunir para decidir, for dar por findo o compromisso de cortes, então o resultado será uma diminuição imediata nos preços porque, apesar de se ter assistido a um aumento da procura, em condições normais a produção ainda supera o apetite global pelo "ouro negro", tendo em conta que, à data do acordo assinado em Viena de Áustria, o excesso era de quase 1,5 milhões de barris por dia (bpd) e os cortes de 1,8 milhões, deixou o mercado com um défice de 300 mil bpd.

O quadro actual aponta, segundo as contas feitas por diversos organismos internacionais, para o cumprimento do acordo de quase 100 por cento - onde Angola contribuiu com um corte de 78 mil bpd - fazendo o barril crescer mais do dobro deste que a OPEP divulgou a intenção de avançar para os cortes, entre Março e Abril do ano passado, onde o barril estava abaixo dos 30 USD.

O que os especialistas admitem como mais razoável é que a política de cortes se mantenha, até porque os resultados têm sido satisfatórios, havendo mesmo já algumas indicações de que esse será o caminho, com, por exemplo, o Irão a afirmar-se disponível para manter o compromisso de não aumentar a sua produção, tendo já a Arábia Saudita e a Rússia admitido igual possibilidade.

Todavia, há cenários fora deste contexto a serem equacionados, como, por exemplo, os conflitos que grassam no Médio Oriente, com destaque para a Síria e o Iraque, e ainda no Norte de África, com a produção líbia seriamente afectada por novas investidas bélicas nas áreas de produção, ou o mesmo na Nigéria, devido às guerrilhas a operar no Delta do Níger.

Se estes conflitos levarem, ou consolidarem a actual baixa da produção nestes países, os restantes exportadores podem olhar para a situação e concluir que os conflitos estão a segurar a produção global e podem retomar a produção sem afectar drasticamente o equilíbrio actual entre a oferta e a procura.

A 25 de Maio saber-se-á o que vão fazer os países da OPEP e a Rússia, mas a aposta mais segura, segundo os analistas, é que os cortes se mantenham, especialmente porque se crê que a indústria do "fracking" norte-americana sabe que se aumentar muito a produção, criará um refluxo nos mercados, e está poderá não aguentar uma nova sucessão de falências nas empresas que apostaram neste sector, como aconteceu em 2015, quando a baixa do barril deixou centenas de empresários com os... baldes na mão e a torneira do crédito bancário fechada.

A perspectiva de Angola, atendendo ao que o ministro dos Petróleos, Botelho de Vasconcelos já disse sobre o assunto, e o que pensa a presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Isabel dos Santos, permite concluir que a política de cortes é a que melhor se ajusta aos interesses do país.

Isto, porque Botelho de Vasconcelos apontou a casa dos 70 USD como a fasquia ideal para Angola e Isabel dos Santos já admitiu que os actuais preços, entre os 55 e os 57 dólares permite olhar para as coisas com algum conforto, levando em linha de conta que o país conseguiu diminuir os custos de extração por barril.