Tanto o Brent, em Londres, que determina o valor médio das exportações angolanas, como o WTI, em Nova Iorque, onde se mede o pulso à economia norte-americana, a maior consumidora de crude em todo o planeta, estão, devido à indecisão que existe sobre a reunião da OPEP+, apesar de fontes citadas pelas agências e sites especializados estarem a adiantar que não haverá alterações substanciais, a perder, perto das 10:00 de Luanda, entre 1,81%, para os 47,36 USD (Londres) e os 1,38%, para os 44,90 USD (Nova Iorque).

Dois factores contribuem para este momento menos bom do crude nos mercados, a reunião da OPEP+, embora aqui a dúvida seja relativa devido ao facto de raramente as agências, como a Reuters ou a Bloomberg citarem fontes com informação errada, e estas estão a adiantar que o "cartel" vai prolongar o plano de cortes pelo menos até Março, ou ainda a alteração do calendário dos futuros, que passam para Fevereiro com o findar do mês de Novembro.

Mas, como tem sido recorrente desde praticamente o início de 2020, em pano de fundo para tudo o que interfere nos mercados petrolíferos está a pandemia da Covid-19, cujo "antidoto", na forma de vacinas, anunciadas em sucessão nas últimas semanas, tem permitido a forte recuperação registada no mês que agora termina, abeirando-se dos 50 USD por barril, valor que era uma miragem ainda há meio ano, altura em que o mundo começava a respirar depois dos 40 USD negativos que o barril atingiu em Abril no WTI e os pouco mais de 20 no Brent.

Na verdade, em Novembro, o barril de Brent subiu mais de 20%, valor semelhante foi registado nos ganhos de Nova Iorque, por causa das promessas sólidas de uma solução para breve - vacinas - para a pandemia que fez o mundo atravessar uma crise de uma dimensão que já não se verificava há cerca de um século, com o crash de 1929, na bolsa de Nova Iorque.

Recorde-se que a OPEP+, organismo ad hoc que desde 2017 junta esforços para corrigir disrupções nos mercados, baixando a produção face à continuada diminuição da procura, tem previsto que a partir de 01 de Janeiro vai subir a produção, baixando os cortes de 7,7 mbpd para 5,7 mbpd, mas este calendário deverá, hoje e terça-feira, ser revisto e prolongado por, pelo menos, mais três meses, de forma a resguardar as economias exportadores - os membros do cartel - dos efeitos da Covid-19 que, apesar do anúncio de vacinas, se deverão manter por mais tempo devido ao gigantismo da operação logística exigida para as levar a todos os cantos do globo, como o Novo Jornal contou aqui.

Para já, e enquanto a chegada das vacinas a quem dela carece não se verifica, o que vai valendo como realidade é que a temida segunda vaga está a fazer mais vítimas que nunca, com cada vez mais casos de infecção, que já vai em quase 63 milhões em todo o mundo, e a aproximar-se das 1,5 milhões de mortes, com as maiores economias a sofrerem novos severos confinamentos, desde logo na Europa, mas também nas maiores economias asiáticas (excepção para a China), Índia, EUA, Brasil..., com evidente impacto na recuperação económica.

A ensombrar o "meeting" da OPEP+ entre hoje e terça-feira está, porém, uma aparente, como refere a Reuters, dificuldade em obter um consenso para o novo mapa de acção para 2021, nomeadamente o prazo para alongar os cortes de 7,7 mbpd, porque alguns membros mostram-se mais reticentes face a essa decisão.

Isto, porque os três meses inicialmente apontados como fundamentais para evitar o regresso de um excesso de produção não parece colher os apoios de todos, porque os países mais dependentes da exportação de petróleo, como é o caso de Angola - embora não exista informação disponível para se saber se Luanda está entre os reticentes - não têm alternativas e anseiam por se verem livres das quotas impostas pelo acordo de cortes ainda em vigor e aumentarem a sua produção.

Esta realidade tem, ainda assim, menos impacto em países como Angola porque a sua capacidade de produção está muito afectada devido a factores como o envelhecimento dos seus blocos ou o desinvestimento dos últimos anos na sua infra-estrutura produtiva.

Face à demora esperada na chegada das vacinas aos países, se a OPEP+ retroceder na ideia de prolongar os cortes, isso possa ter um impacto negativo de até 5 USD por barril nos meses vindouros, avançou a Goldman Sachs citada pela Reuters.

Mas os principais analistas admitem igualmente que esse cenário deve ser encarado apenas como hipótese e não como o mais verosímil face ao actual momento que o mundo atravessa, sendo, por isso, mais avisado aguardar pelo avançar dos trabalhos da reunião do "cartel" que decorre em formato virtual.