O Brent de Londres, que determina o valor médio das exportações angolanas, abriu hoje claramente em baixa, passando mesmo a barreira dos 70 dólares norte-americanos, estando o barril a ser transaccionado a 69,7 USD por volta das 08:50, menos 2,48% que no fecho de ontem.

Isto, apesar de a OPEP não produzir tão pouco desde Março de 2015, com a média diária de Abril a fixar-se nos 30,23 milhões de barris por dia (mbpd), menos 90 mil que em Março deste ano, que iguala a produção à que se registou em 2015 nesse mesmo mês.

A empurrar o valor da produção para baixo- cenário que poderia, em tese, permitir a Angola obter ganhos se tivesse capacidade para aumentar a sua produção - está a dramática incapacidade da Venezuela, país envolvido numa profunda crise económica, social e política, em estancar o declínio da sua máquina produtiva, o fim das excepções norte-americanas nas sanções impostas ao Irão e ainda a decisão da Arábia Saudita em ir mais além que o acordado no âmbito dos acordos de redução para equilibrar os preços nos mercados com a denominada OPEP+, que agrega à OPEP países como a Rússia e o Cazaquistão, entre outros.

Mas a puxar em sentido contrário ao expectável, ou seja, os preços para baixo, está, ideia para a qual confluem diversos analistas, a percepção dos mercados de que, apesar dos problemas na Venezuela, a questão das sanções ao Irão, ou ainda o esforço saudita, existe crude suficiente disponível para suprimir o buraco gerado por estes três factos.

Também é relevante o facto de a produção dos Estados Unidos, actualmente o maior produtor mundial, acima dos 12 mbpd, superando a produção saudita devido aos cortes artificiais feitos no âmbito dos acordos OPEP+, estar a aumentar, bem como as suas reservas terem sido revistas em alta de 6,8 milhões de barris na semana passada, ou as informações avançados pelos governos saudita, iraquiano e dos Emirados Árabes Unidos no sentido de existir disponibilidade para reverter a política de cortes acentuados em caso de ser necessário tapar o buraco gerado pela Venezuela e Irão.

A guerra comercial China-EUA

E ainda a questão, que tende a ser vista mesmo como central em toda esta mecânica global de factores que elevam e baixam o valor do crude, da guerra comercial que os EUA e a China travam há mais de dois anos, desde que Donald Trump assumiu o poder em Washington.

Em causa está uma nova e pesada ameaça de Trump em elevar de forma substancial as tarifas sobre um conjunto de produtos importados da China para pressionar um desenlace nas, aparentemente, enferrujadas negociações com Pequim, e que o Presidente norte-americano entende que devem levar a um maior equilíbrio nas trocas comerciais entre as duas maiores economias mundiais.

Recorde-se que, na semana passada, ao cabo de longas semanas de negociações com a China, Trump veio a público abanar fortemente a economia global com a ameaça de novas taxas sobre as exportações chinesas para os EUA, que, desde o ano passado, foram sobrecarregadas com 250 mil milhões USD extra num total de quase 600 mil milhões USD de importações norte-americanas de produtos Made in China.

Segundo os negociadores norte-americanos, estão questões como obter da China garantias de que haverá um travão no "roubo" de conhecimento de tecnologia americana, o apoio governamental ao sector privado chinês, que gera distúrbios na verdade dos mercados que favorecem as exportações chinesas, e - este é o ponto essencial para Trump - garantir que Pequim abre as portas do seu gigantesco mercado de mais de 1,3 mil milhões de pessoas a um conjunto alargado e medido em biliões de dólares de produtos Made in USA.

Para isso, actualmente, Trump tem em cima da mesa a subida de 10 para 25% dos produtos já sancionados, o que significa um agravamento considerável das taxas, cujo impacto no sector produtivo chinês é impossível de ignorar pela simples razão de os EUA são, largamente, o maior importador da economia chinesa.

E isso traduz-se de imediato em menor consumo de petróleo, que, por sua, vez conduz igualmente a uma quebra no valor do barril colocado nos mercados, com efeitos devastadores nas economia dependentes das exportações de crude, como a angolana, o que contribui também para o arrefecimento da economia global devido à menor capacidade de importar bens, nomeadamente da China e dos EUA.

EUA que também sofrem com esta guerra comercial, visto que a China, apesar de com menor dimensão, é um importador considerável de bens norte-americanos, especialmente bens alimentares e material electrónico sofisticado, tendo um dos efeitos mais proeminentes sido a troca da soja dos EUA pela brasileira e de outros países sul-americanos.

O aumento das tarifas de Trump sobre produtos chineses está marcado para sexta-feira, 10, e esse poderá ser um dia importante para perceber o que se vai passar nas próximas semanas nos mercados petrolíferos.

Angola precave-se revendo o valor do barril no OGE 2019

O barril de petróleo para efeitos das contas do Estado ao longo de 2019 passa a ter como referência os 55 dólares norte-americanos, decidiu o Governo de João Lourenço na aguardada revisão do Orçamento Geral do Estado (OGE), cuja versão revista foi entregue na terça-feira na Assembleia Nacional para aprovação pelos deputados.

A votação final global, em plenária, deverá ter lugar ainda este mês, tendo antes disso de ser aprovado na generalidade e, depois, descer à comissão especializada.

Estas contas refeitas entre o deve e o haver do Estado, de acordo com um comunicado do Conselho de Ministros, acabam por subtrair 13 dólares ao barril de petróleo cujo preço de referência na versão anterior do OGE era de 68 USD, o que obrigou a equipa económica do Executivo a refazer os planos de despesas até Dezembro.

Mas, sobre o impacto directo do OGE reformulado, contido na proposta de Lei a aprovar na Assembleia Nacional, onde o barril de Brent tomba dos 68 para os 55 USD, isto significa que as receitas e despesas descem cerca de 9 por cento, prevendo-se que afecte particularmente a área social.

Por detrás desta revisão do OGE 2019 está o constante sobe e desce do valor do crude nos mercados internacionais, cujo impacto na economia angolana é grande, bastando para isso ter em conta que o petróleo ainda representa cerca de 95% das exportações do país.

Estes 55 USD substanciados neste novo documento são um valor conservador face ao comportamento dos mercados nos últimos meses, mas protegem o Executivo e a sua equipa económica de eventuais surpresas.