A "união" que tem dado bons frutos e por causa da qual o barril de petróleo saiu do atoleiro em que estava em 2016, ainda sequela da crise de 2014, quando o barril iniciou a queda vertiginosa de mais de 120 USD para menos de 30 em Fevereiro de 2016, foi questionada pelo Presidente da Rússia, que admitiu em declarações aos jornalistas sobre o próximo "meeting" da OPEP+ que os "sócios" não têm a mesma opinião sobre qual o valor do barril mais adequado aos seus países.

Vladimir Putin lembrou, em frases citadas pelas agências que podem ter um forte impacto em Angola, bem como nos restantes membros da OPEP cujas economias vivem essencialmente das exportações de crude, que para a Rússia, um preço bom para o barril e adequado às contas do Governo de Moscovo são 40 USD, mas, já para a Arábia Saudita, o maior produtor mundial quando não está sujeito aos cortes estratégicos na produção, esse valor, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), é de 85 dólares, só para equilibrar as contas públicas.

Em Angola, o valor adequado para o barril, se a referência for o OGE 2019 revisto, é de 55 USD, porque foi esse o valor usado para as contas públicas este ano, mas sabe-se que é muito aquém do valor que permita ao país libertar-se da crise que atravessa desde 2014.

Alguns analistas apontam para um valor em torno dos 80 USD por barril como o "adequado" a Angola, mas, se se tiver em conta as declarações do antigo ministro dos Petróleos, Botelho de Vasconcelos, o barril de Brent (Londres), que serve de indicador médio das exportações nacionais nos 70 dólares "não é mau".

Porém, o problema vai ser discutido entre russos e sauditas, quando a OPEP+ reunir no início de Julho, em Viena, para definir se os cortes de 1,2 milhões de barris por dia (mbpd), em vigor desde 01 de Janeiro deste ano, se prolongam para a segunda metade de 2019 ou se este valor sofre alterações, sendo os interesses de Angola melhor defendidos pela posição de Riade que pela vontade de Moscovo, o que deixa em evidência que, na mesa das negociações, Luanda vai estar do lado da manutenção da actual estratégia.

Até porque a queda na produção nacional de mais de 400 mil barris/dia - média dos últimos 10 anos - e a inevitável continuação da diminuição dos barris produzidos diariamente, que, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), deve bater no fundo em 2023, nos 1,29 mbpd faz de Angola um dos países contribuintes líquidos para a baixa da produção global, apesar dos esforços do Executivo para estancar a brecha com as reformas profundas no sector que foram já realizadas, desde a criação da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANPG) até às bonificações atribuídas às multinacionais que produzam a partir dos chamados campos marginais - com 300 mil ou menos barris.

Com as guerras comerciais em que os Estados Unidos estão envolvidos, com a China e com o México, a procura mundial por petróleo tem vindo a diminuir e o barril perdeu mais de 10 USD em menos de duas semanas entre finais de Maio e os primeiros dias de Junho, o que é outro elemento que vai estar em foco em Viena, onde os dois gigantes - Rússia e Arábia Saudita - mostram, pela primeira vez, ao mais alto nível, desde que em Novembro de 2016 teve início esta parceria, não estarem totalmente alinhados sobre o que é mais "adequado" para o futuro.

Todavia, Vladimir Putin afirmou a vontade de Moscovo em manter a cooperação com a OPEP, porque isso é o que mais serve os interesses nacionais, mas a verdade é que a diferença sobre o que é o "preço justo" do barril de ouro negro está agora claramente posta em cima da mesa e este tema está condenado a ser um dos principais tópicos do encontro de Viena.

Nesta conversa com os jornalistas, o Presidente russo, apesar de insistentemente perguntado, não deu pistas sobre o que vai acontecer após o encontro de Viena, sublinhando que o contexto internacional "não pode deixar de ser tido em consideração".

Desde logo a evolução da cada vez menos disfarçada "guerra" comercial e tecnológica entre Washington e Pequim, com impacto global, tanto na procura de crude como na brutal queda nas bolsas mundiais, gerando uma desconfiança nos investidores.

Mas igualmente o facto de muitos dos países da OPEP e OPEP+ estarem actualmente a atravessar crises profundas com impacto directo nas suas produções, como a Venezuela, a Líbia ou a Nigéria, mas também Angola, cuja crise é de outra natureza e tema ver com o facto de as multinacionais, por causa da crise de 2014, erem desinvestido na pequisa e isso levar anos a recuperar, desde logo a "lubrificação" da infra-estrutura de suporte à pesquisa e à produção, mesmo que empresas como a Total ou a ENI estejam a procurar recuperar o "fôlego".

Mas não é apenas isto que deve preocupar a OPEP+. Também a questão da imposição de normais para limpar os combustíveis pesados, o que pode ser o "cisne negro" do sector nos próximos anos, por imposição da Organização Marítima Internacional (OMI), que é a agência da ONU para as questões dos transportes marítimos, vai ser determinante para o sector.