A ameaça estava no ar há já três dias, com o evoluir da tempestade "Sally", que, além de ganhar dimensão, aproximando-se da condição de furacão, estava a progredir em direcção ao Golfo do México, onde os EUA, o maior produtor do mundo e o maior consumidor de crude do mundo, a que junta ainda o estatuto de maior economia planetária, têm a parte de leão da sua produção petrolífera.

Com o aproximar veloz desta geografia estratégica para a indústria do crude norte-americano, incluindo os EUA e o México, a "Sally" sofreu uma mutação, já esperada, para furacão de categoria 1 e, nas últimas horas, para categoria 2, numa escala que vai até 5 em função da sua capacidade destruidora e velocidade dos ventos que gera, o que obrigou, pela segunda vez em menos de um mês, ao encerramento de mais de uma centena de plataformas das "majors" e mais de 1/4 da produção dos Estados Unidos e parte da do México, cerca de 2 milhões de barris por dia (mbpd), está ameaçada, embora até ao momento apenas 500 mil bpd e pouco mais de 21 milhões de metros cúbicos de gás natural foram retirados de circulação.

Os efeitos desta devastadora força da natureza não se fica pela zona de impacto, chega bem para lá das fronteiras dos EUA e do México, tendo em Londres um dos efeitos mais severos, com o Brent a subir, logo na abertura cerca de 2,5 %, para 41, 55 USD por barril, enquanto em Nova Iorque, o WTI, ainda com mais vigor, trepava 2,77 %, para os 39,35 USD, cerca das 09:50, hora de Londres e de Luanda, mais 5 horas que em Nova Iorque.

Mas há mais para além do clima adverso no Golfo do México, também o dólar norte-americano tem vindo a perder valor face às moedas europeia, japonesa e chinesa, entre outras, o que tem contribuído sobremaneira para a valorização na moeda dos EUA que os mercados pagam por barril.

Igualmente a pressionar em alta está a descida inesperada dos stocks de crude nos EUA, que, segundo o Instituto Americano do Petróleo, caíram mais de 9,5 milhões de barris na semana que passou, segundo avançam esta manhã de quarta-feira, 16, as agências e sites especializados.

Mas nada disto pode ser considerado como garantido para as contas que os países produtores em situação de crise, como é o caso de Angola, mas também os países do Golfo Pérsico, desde logo a Arábia Saudita, porque em pano de fundo permanece a ameaça persistente e sólida da pandemia da Covid-19, cujos dados mais recentes da Organização Mundial de Saúde, apontam para uma sólida subida no número de casos em todo o mundo, sendo a excepção a China, onde há mais de um mês que não é registado qualquer caso.

Com a ameaça de novos e severos confinamentos para travar a pandemia na Europa, nos EUA e em alguns países asiáticos, como o Japão, e o efeito nefasto que isso tem nas economias, a Agência Internacional de Energia (AIE) já tornou claro que 2020 vai ser um ano de sólidas perdas no lado da procura e 2021, embora se preveja uma recuperação, esta será menos vigorosa que as expectativas anteriormente anunciadas.

E é isso mesmo que a OPEP+, a organização dos Países Exportadores (OPEP), que inclui Angola e mais 12 países, com a Arábia Saudita a ser o líder "de facto", e outros 10 "não-alinhados" liderados pela Rússia, cujo comité consultivo reúne a partir de quinta-feira, 17, por videoconferência, vai ter de analisar e decidir que medidas tomar, ou não.

Para já, a OPEP+ tem em curso um plano de cortes de subtracção de 7,7 milhões de barris por dia à produção para ajudar ao equilíbrio dos mercados face ao impacto da pandemia da Covid-19, mas alguns analistas avançaram já que o "cartel" não deverá mexer no que está previsto, mantendo os actuais cortes pelo menos até Novembro.