No espaço de um mês, o barril de Brent, vendido em Londres e que determina o valor médio das exportações angolanas, perdeu mais de 16 por cento, passando de quase 85 dólares para os 72,39 com que abriu hoje, menos 44 cêntimos que na sexta-feira, contrariando a generalidade dos analistas, que previam exactamente o contrário, que o mundo iria assistir a uma subida significativa do barril de crude, tanto em Londres como no WTI de Nova Iorque, onde o barril perdeu igualmente valor.

Uma das justificações para esta "contrariedade", na perspectiva dos países produtores, como é o caso de Angola, que tem no crude a sua principal exportação e fonte de receitas para o Orçamento Geral do Estado, é que os EUA, apesar da severidade das ameaças proferidas pelo Presidente Donald Trump, estas chegaram numa versão bastante menos agressiva que o esperado.

Isto, porque o Irão, segundo a versão final do pacote de sanções de Washington, continua a poder vender petróleo a um conjunto de países sem que estes sejam admoestados pelos EUA, que, segundo as primeiras versões, seriam todos sancionados a partir do momento que comprassem crude iraniano.

Esta ameaça pendia inclusive sobre as empresas desses países que seriam seriamente prejudicadas nas suas exportações para os EUA, com a imposição de pesadas taxas, o que se tornaria um entrave quase absoluto por causa das consequências para alguns sectores, como, por exemplo, da indústria automóvel.

Se o Irão, que é o 4º maior produtor da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP), fosse impedido de exportar na totalidade, os mercados ficariam com menos 3 milhões de barris por dia, o que levaria a um evidente buraco entre a oferta e a procura, fazendo os preços subir de forma vigorosa.

Todavia, os especialistas previam que, com as sanções, os mercados ficassem com menos cerca de um milhão de barris por dia, devido à impossibilidade de evitar que as vendas continuassem, apesar de limitadas, sendo isso suficiente para provocar uma forte escalada nos preços.

Mas, depois de, ao longo dos últimos meses, países como a China e a Índia, entre outros, terem enfrentado os EUA ao anunciarem que manteriam os seus programas de compras de petróleo iraniano, bem como a pressão feita pela Europa e pela Rússia para que as sanções fossem aligeiradas como forma de salvar o que resta do acordo nuclear, Washington, como foi hoje profusamente noticiado, optou por, para já, retardar a efectivação das sanções contra os países que mantiverem os negócios com Teerão.

Face a esta situação de claro confronto à decisão unilateral de sancionar o Irão, a Administração norte-americana prolongou a "autorização" a oito países para manterem as compras de crude iraniano.

Embora não tenham sido nomeados individualmente, os analistas apontam a China, Índia, Coreia do Sul, Turquia, Itália, Japão, Emirados Árabes Unidos e, apesar de os EUA não verem esta ilha como um país, Taiwan, como os mais prováveis visados, até porque são actualmente os maiores importadores de crude iraniano.

Com este desfecho, apesar de mais tarde, dentro de meses, poderem ser retomadas as sanções na íntegra, os mercados reagiram claramente com um alívio nos preços do barril, mantendo uma queda que já se prolonga desde o início de Outubro.

Recorde-se que a reintrodução das sanções dos EUA ao Irão foram decididas por Donald Trump por considerar que o acordo a que o seu antecessor, Barack Obama, chegou, conjuntamente com a Rússia, China e a União Europeia, é "frágil" e não impedia Teerão de continuar a desenvolver o seu arsenal nuclear e os mísseis para os transportar.

Análise que os restantes signatários não aceitam e iniciaram de imediato uma intensa frente diplomática para derrotar as pretensões de Trump, pressionado no sentido de "castigar" o Irão pelos seus principais adversários no Gofo e Médio Oriente, a Arábia Saudita e Israel, que acusam o Governo Persa de manter em segredo o desenvolvimento do seu programa nuclear, apesar de a Agência Internacional de Energia manter sob vigilância a actividade militar iraniana e haver garantias de que o programa nuclear foi efectivamente encerrado.