Entre quinta e sexta-feira da semana passada, os 14 países da OPEP e os 10 que se juntaram ao "cartel" em 2017 para definir uma estratégia de defesa contra a perda de valor da matéria-prima, com a Rússia na frente, estiveram reunidos em Viena, Áustria, concluindo num acordo de elevar os cortes que estão activos desde Janeiro deste ano de 1,2 mbpd para os 1,7 mbpd, mais 500 mil bpd, aos quais se juntam os 400 mil bpd que a Arábia Saudita voluntariamente retira do mercado como ajuda extra para este esforço.

Os sauditas não escondem que pretendem fazer o barril valer pelo menos 70 USD em média durante 2020, porque é o valor mínimo que permite equilibrar as suas contas públicas, mesmo que o ideal fossem os 80-85 USD por barril, como fontes do Governo de Riade já afirmaram à Reuters.

Para já, nos últimos 10 dias, na soma dos rumores pré-reunião da OPEP+ em Viena e os resultados efectivamente conseguidos nos dias 05 e 06, o barril de Brent, vendido em Londres, que determina o valor médio das ramas exportadas por Angola, subiu cerca de 2 dólares, estando hoje, cerca das 12:00 a valer 64, 10, ligeiramente abaixo, 0,23%, do fecho de segunda-feira.

Mas alguns analistas entendem que os surpreendentes 400 mil barris extra anunciados pelo ministro da Energia da Arábia Saudita, Príncipe Abdulaziz bin Salman (na foto), após a conclusão dos trabalhos em Viena - mais os 167 mil definidos no novo acordo que vai entrar em vigor a partir de Janeiro de 2020 - ainda não foram devidamente digeridos na sua consequência pelos mercados, o que permite adivinhar que nos próximos dias se assistirá a um novo aumento do valor.

E isso aconteceu porque, ao mesmo tempo que este anúncio era feito, da China, o maior importador do mundo e a segunda maior economia global, a quem interessa manter o barril em valores baixos, chegavam más notícias sobre os volumes das suas exportações, muito prejudicadas pela guerra comercial que Pequim mantém com os Estados Unidos, e que tarda em evoluir em direcção a um "acordo de paz", apesar das "ameaças".

Mas os sauditas não pretendem, com o seu contributo extraordinário, apenas dar sinais de empenho aos mercados, Riade quer igualmente pressionar os seus parceiros no sentido de garantir que estes não fogem ao acordado, garantindo que vão diminuir as suas produções confirme o definido em Viena, onde sobressaem, por exemplo, os 70 mil barris por dia da Rússia, os 60 mil dos Emirados ou ainda os 55 mil do Kuwait, sendo que aos restantes membros foram atribuídos cortes sem expressão, mantendo-se, todavia, os actualmente em vigor, onde, por exemplo, Angola surge com co compromisso de cerca de 47 mil barris.

O problema para esta estratégia é que a economia planetária vai, se tudo se mantiver como agora acordado, em 2020, contar com uma produção excedente de mais de entre 200 mil e 300 mil barris, desde que todos os países sigam à risca o acordo, que é a grande dor de cabeça dos sauditas.

Alias, há quem entenda que a Arábia Saudita, desta vez, entre a espada e a parede, se em Março do próximo ano, quando o "cartel" volta a reunir, verificar que os outros países não cumpriram com os cortes, poderá optar por inundar o mercado, fazendo o barril voltar aos preços de Fevereiro de 2016, quando este bateu nos 29 USD.

Para esse excedente desaparecer, o que os países exportadores precisam - especialmente aqueles que enfrentam as mais graves crises económicas, como é o caso de Angola - é que surjam boas notícias da China e dos EUA, que estão, actualmente, em negociações para acabar com a pesada guerra comercial que já dura há quase dois anos, e que é responsável por um dos mais longos atrofiamentos da economia mundial em décadas.

Esse atrofiamento da máquina económica planetária tem como consequência imediata a diminuição da procura de crude e a sua perda de valor, o que, para já, serve os interesses dos EUA, não só porque a sua economia é das mais dependentes do mundo do petróleo, mas porque o Presidente Donald Trump é um defensor das indústrias mais pesadas impulsionadas pelos derivados do crude, mas também porque o seu eleitorado - as eleições são em Novembro de 2020 - é extremamente sensível aos combustíveis baratos e tem todo o interesse em manter os diferendos com os chineses num estratégico stand by.

Para já, dois elementos surgem como "chave" para o sucesso pretendido pela OPEP+: total compliance com os cortes acordados e boas notícias das negociações EUA-China, com a natural subsequente melhoria nos dados económicos globais.