O mistério deixado como rasto da reunião da OPEP que ontem teve lugar na sede mundial do "cartel", em Viena, Áustria, começa logo pelo essencial do que estava em jogo: quantos mais barris vão ser injectados no mercado por parte da organização à qual Angola pertence e à qual também o Congo-Brazzaville também passou a pertencer na sexta-feira?

Facto, facto é apenas a subida do preço do barril de Brent, que é vendido em Londres e entabula a variação de preços das exportações angolanas, tendo, ontem, no final do encontro da OPEP, subido quase um dólar por barril - esta nos 75,32 USD - quando os experts esperavam que o movimento fosse em sentido contrário.

Mas vamos as explicações encontradas pelas melhores cabeças do mercado. A primeira é que a quantidade de barris que vai ser injectada nos mercados - não há números exactos mas estima-se que seja à volta de 1 milhão por dia - não é suficiente para provocar ondas, visto que os cortes definidos em conluio pela OPEP e pela Rússia mais 11 produtores não-cartelizados a partir de Janeiro de 2017 - 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) - para impulsionar os preços ainda é suficiente para manter os mercados em equilíbrio face ao aumento da procura entretanto sucedida devido ao bom desempenho das economias da China, Índia, Japão, EUA e Europa.

A outra explicação, que entronca na primeira, como sempre sucede no universo do "ouro negro", é que, a par dos cortes de 1,8 mbpd iniciados a 01 de Janeiro de 2017, o decréscimo da produção foi substancialmente maior porque países como a Venezuela ou Angola viram a sua capacidade diminuir face ao desvitalizar da sua infra-estrutura petrolífera, devido à escassa manutenção das multinacionais num ambiente de barril muito barato.

Havendo mesmo contas feitas por especialistas que, metendo ainda no balanço os problemas sucedidos na Líbia e o regresso das sanções dos EUA ao Irão, entre outros casos, apontam para cortes efectivos de 2,8 mbpd entre Janeiro de 2017 e os dias de hoje, o que, na verdade, permite que o valor de 1,8 mbpd negociado pela OPEP+Rússia & Co. chegue ao momento actual sem alterações, mesmo com esta injecção de 1 mbpd, que até pode ser menos quando o segredo da reunião de ontem for revelado.

Mas a festa não acaba aqui...

O poderoso cartel que, com a junção da Rússia, do México ou do Cazaquistão, e ainda mais uma dezena de produtores, ficou conhecido no meio com a denominação OPEP+, parece estar a levar a melhor contra as grandes economias consumidoras, como os EUA, apesar de ser igualmente o 2º maior produtor mundial, a China, a Europa ou a Índia, que têm subtilmente, com Donald Trump como chefe de orquestra, feito pressões para que a produção aumente e os preços desçam.

No entanto, as coisas podem levar um novo empurrão histórico, porque, ao que contam os enviados das agências e dos sites especializados à reunião de Viena, a Rússia e a Arábia Saudita tinham outros planos e foram "obrigados" pelos sócios mais pequenos, embora com peso, como o Irão, a Venezuela, que tem as maiores reservas do mundo, ou mesmo Angola, que, embora mantenha a sua posição sigilosa, apresenta-se no grupo dos interessados em poucas mexidas no actual status quo.

Planos esses que passavam por aumentar mais, bastante mais a produção, defendendo essa possibilidade com os argumentos que já são públicos: a Arábia Saudita quer impedir o ressurgimento em larga escala do petróleo de xisto, ou "fracking", norte-americano, e a Rússia precisa com urgência de dinheiro fresco proveniente do petróleo.

Para já assim não sucedeu, mas ainda pode acontecer, porque Moscovo e Riade estão cada vez mais próximos de darem um passo que pode tornar a OPEP um resíduo histórico de boa ou má memória, dependendo de onde se observar.

Há escassos meses, a Rússia e a Arábia Saudita, o 3º e o 1º maiores produtores mundiais, como os EUA pelo meio, em 2º lugar, assinaram um acordo para um entendimento no seio do negócio do petróleo; agora, começam a surgir notícias de que os dois gigantes do crude mundial estão á beira de unir esforços noutro âmbito e proximidade, o que pode mandar ás malvas a velhinha OPEP.

Com essa possibilidade no horizonte, os mercados ficam a saber uma coisa clara: Arábia Saudita e Rússia, de per si, possuem a capacidade de influenciar todo o negócio de petróleo que ocorre no mundo e de fazer forte pressão sore os restantes produtores.

Ainda por cima com a ideia em clarificação de que Moscovo e Riade podem estar a ir em direcção aos interesses de Washington, de onde o Presidente Donald Trump já mostrou que não gosta da OPEP, que acha que o barril de crude está muito caro e já pediu aos amigos russos e sauditas para lhe "resolverem o problema" porque vai ter eleições em breve e os eleitores norte-americanos exigem gasolina barata para os seus carros...

Factos:

O ministro dos Petróleos russo, Alexander Novak (na foto, com o homologo saudita), entende, citados pelas agências, quando ainda decorria a reunião em Viena, sobre este assunto, que deve ser "construído em cima da cooperação de sucesso realizada nos últimos dois anos um modelo eu integre todos os países" que desde o início de 2017 mantêm estes cortes dentro e fora da OPEP, por forma a dar corpo a "uma organização estratégica permanente".

Khalid Al-Falih, ministro que tutela o sector saudita, sublinhou o mesmo que Novak, deixando claro, como o actual Presidente da OPEP, Suhail Al Mazrouei, teve de admitir, que essa abrangente plataforma pode estar activa já em finais deste ano, início de 2019, juntando so actuais membros da OPEP e os restantes, num total de 24, no eu seria uma espécie de segunda OPEP que, sem dúvida, irá matar a primeira, diminuindo o poder actual de países como, por exemplo, Angola ou a Venezuela, que veriam a sua capacidade de influenciar o negócio diluindo por quase 3 dezenas de parceiros em vez dos actuais 14.

E isso será feito ao extinguir o actual quadro que determina que cada membro te um voto para outro onde os maiores, como a Rússia e a Arábia Saudita, passam a ter voz determinante, extinguindo o actual equilíbrio.

Uma pergunta ficará no ar nos próximos dias: apesar de a OPEP ter decidido por um aumento moderado da produção, a Rússia vai autonomamente meter mais petróleo no mercado, como os EA querem? Ou vai garantir uma sã convivência com os seus "novos" parceiros?

Certo é que a Rússia e a Arábia Saudita são capazes de produzir hoje, juntos, mais de 20 milhões de barris por dia, mas podem chegar facilmente aos 25 mbpd se surgir uma crise mais profunda na oferta.

E Angola?

Face a isto, Angola, ao que tudo indica, deverá manter-se atenta ao evoluir das conversações, sendo que também era do seu interesse manter a produção nos actuais níveis.

Isso mesmo disse o ministro angolano dos Petróleos, Diamantino Azevedo defendeu em Viena que Angola pretende manter a produção actual, em torno dos 1,6 mbpd, embora essa quantia esteja a declinar por razões de ordem operacional, como sejam, entre outras, a deterioração da estrutura produtiva por falta de investimento em manutenção pelas multinacionais devido à crise gerada pelos baixos preços iniciada em 2014.

Apesar de o resultado poder ter sido melhor do que seria expectável, Angola estaria no grupo dos membros que defenderam a manutenção do status quo, porque não só os preços são bons para a sua economia - o OGE foi elaborado com base no barril a 50 USD e este está hoje a ser transaccionado acima dos 74 -, como também enfrenta uma séria incapacidade de aumentar de um dia para o outro a produção devido à deterioração da sua infra-estrutura produtiva motivada pelos anos de abandono das multinacionais por causa dos valores insignificantes do petróleo entre 2014 e finais de 2017.

Alias, Angola, apesar dos esforços em curso para reabilitar a produção, com incentivos fiscais sérios às companhias, deverá atravessar uma fase complexa até 2023, período no qual a Agência Internacional de Energia prevê uma queda na produção dos actuais 1,55 mbpd para os 1,29 mbpd.

Recorde-se que mandam as regras que o aumento de produção no seio da OPEP seja distribuído proporcionalmente pelos membros, embora isso seja difícil nas actuais circunstâncias para alguns países, como a Venezuela ou Angola, devido à deterioração das suas infra-estruturas produtivas.

Não sendo essas quotas transmissíveis, esse factor pode contribuir ainda mais para que os aumentos definidos fiquem, ainda assim, aquém do pretendido, mesmo que essa possa ser uma das razões para que a quantidade exacta dos barris a injectar nos mercados não tenha sido avançada, podendo ser, internamente, "cozinhada"...