Por detrás das sombras que escurecem a economia global está a recente evolução sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, que vê alargarem as possibilidades de uma saída caótica em acordo, a fragilidade do crescimento das grandes economias planetárias devido à guerra comercial sem fim à vista entre a China e os EUA e sinais de que as reservas mundiais de crude estão a aumentar.

Face a estes sinais, o petróleo, a matéria-prima mais sensível aos "humores" da economia global, respondeu em baixa em Londres, largando no ar novos sinais de perigo para a economia angolana, uma das mais pressionadas por este sobe e desce do "ouro negro".

Essa pressão é engrossada ainda pela dependência que Angola tem do sector petrolífero, ainda pela grave crise que atravessa e pelas consequências da austeridade inerente à aplicação do programa de reformas acoplado ao Programa de Financiamento Ampliado do Fundo Monetário Internacional (FMI) no valor de 3,7 mil milhões USD.

Porém, nem tudo são más notícias para os países exportadores de petróleo, como é o caso de Angola, porque as rondas de negociações entre os EUA e a China para acabar com a guerra comercial, segundo a Reuters, parecem estar a evoluir positivamente, com as equipas negociais a prepararem um documento que deverá ser assinado pelos Presidentes Donald Trump e Xi Jinping em Novembro.

Se este acordo for conseguido, dando por finda esta longa guerra comercial, ou, pelo menos, diminuir a sua intensidade, a economia global ressentir-se-á positivamente de forma acelerada, visto que se trata das duas maiores economias planetárias com uma capacidade única de rebocar as restantes economias, da Europa à Índia, o que leva de forma mecânica, a um aumento do consumo mundial de petróleo.

Mas há um novo fenómeno que pode mudar radicalmente este cenário de permanentes baixas do valor do crude nos mercados internacionais que é a entrada em vigor a 01 de Janeiro da nova regra da Organização Marítima Internacional (IMO, sigla em inglês) que visa diminuir de forma radical as emissões de gases poluentes com efeito de estufa pelos navios que cruzam os oceanos.

A IMO é uma agência especializada das Nações Unidas, criada em 1948 e reformulada em 1982, para acolher a responsabilidade de garantir a segurança de circulação e a prevenção da poluição marítima e atmosférica do transporte marítimo global.

E, face à emergência mundial de travar o amento da temperatura média global e a emissão de gases poluentes que estão na sua génese, a IMO decidiu nos últimos anos passar a não autorizar a navegação aos navios que mantenham a utilização de motores que usam fuel - combustível com alto teor de enxofre -, impondo que os novos combustíveis contenham uma percentagem inferior a 0,5% deste poluente, face aos actuais níveis permitidos, que vão até aos 3,5% de enxofre na sua composição.

A descarbonização da navegação marítima, cujo sector é responsável por quase 7% do consumo de petróleo mundial, esteve por detrás desta medida que vai obrigar a profundas alterações nas refinarias mundiais, em grande parte preparadas para refinarem ramas pesadas e que agora vão ter de se readaptar a esta nova realidade.

A meta, estabelecida pela IMO em 2018, é exigente e compreende uma diminuição de 50% das emissões anuais até à completa extinção das emissões - zero emissões - até 2050.

Isto implica a ausência de petróleo na base dos combustíveis marítimos em 2050 mas, mais importante no curto prazo, a diminuição do enxofre já a 01 de Janeiro, o que deverá criar problemas imediatos.

Como, por exemplo, aumentar muito o preço das ramas mais leves, que não exigem grandes alterações às refinarias mundiais preparadas para trabalhar com ramas de crude mais pesadas e menor necessidade de extrair este poluente da composição dos combustíveis refinados ali produzidos.

Uma eventual, como está ser admitido pelos analistas do mercado perolífero mundial, incapacidade de refinação durante 2020, pode levar a falhas na oferta mundial e a uma pressão substancial do preço do petróleo em alta, pelo menos até que a oferta de combustíveis produzidos segundo os novos padrões mínimos esteja normalizada.

Alguns analistas admitem mesmo que, no limitem aumente de forma drástica a diferença de preços entre as ramas mais leves e as mais pesadas, o que pode beneficia, no caso angolano, os blocos que produzem crude mais leve - light - e prejudicar as ramas com maior densidade de componentes poluentes, como o enxofre.

Navios, os grandes poluidores mundiais

Por exemplo, um estudo divulgado em 2016 e elaborado por uma associação ambientalista alemã, avançava que um grande navio de cruzeiros emite tanto CO2 como 83.678 carros, ou tanto óxido de azoto como 421.153 automóveis e tantas partículas como um milhão de veículos, ou ainda tanto dióxido de enxofre como 376 milhões de carros.

Os navios, que hoje recorrem ao denominado "fuel marítimo", cuja principal característica é ser bastante mais barato e muito mais poluente, são responsáveis por uma larga percentagem da emissão global de gases com efeito de estufa.

Este combustível é também conhecido por "fundo do barril" e tem actualmente entre 3,5 e 4% de enxofre na sua composição.

As ramas angolanas

De acordo com a tabela publicada pela Sonangol sua página oficial, a tabela das ramas angolanas é esta:

Crude Intermédio - Cabinda Blend: crude de viscosidade média e com pouco enxofre (32.0o API e 0.12% de enxofre), cuja maior parte da produção é exportada para a China.

Dália: crude semi-viscoso e doce (23.65º API e 0.49% de enxofre), meio-acido (1.56mg KOH/g).

Girassol: crude com viscosidade média e teor enxofre baixo (API 30.8º e 0.34% de enxofre). É constituído pelos campos girassol e jasmim.

Hungo: crude intermédio e semi-doce (28.5º API e 0.71% de enxofre). Este crude engloba os campos Hungo e Chocalho no Bloco 15.

Kissanje Blend: crude intermédio e doce (28.2º API e 0.44% de enxofre).

Crude Pesado

Kuito: crude pesado e semi-doce (19º API e 0.68% de enxofre), com muito ácido (2.1 mg KOH/g). Produzido no Bloco 14.

Crude Leve

Nemba: crude leve e doce (38.7º API e 0.19% de enxofre) oriundo do Bloco 0 sito no offshore de Malango, Cabinda.

Palanca blend: crude leve e doce (37.2º API e 0.18% de enxofre), produzido em 5 concessões.

Xicomba: crude com bastante fluidez e doce (34.8º API e 0.39% de enxofre) produzido no Bloco 15. Exportado na totalidade para os E.U.A.