Há meses que o Presidente dos Estados Unidos e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, travam uma violenta guerra comercial que já vai em quase 300 mil milhões de dólares em tarifas extraordinárias aplicadas sobre as importações de um para outro lado, embora os EUA levem vantagem sobre a China, com mais de 200 mil milhões.

Com a perspectiva de um novo impasse na mesa das negociações, Donald Trumpo mandou o seu secretário de Estado do Tesouro, Steven Mnuchin, dizer, numa entrevista ao canal económico CNBC, que não só será rápido a fazê-lo como terá uma grande satisfação ao castigar a parte chinesa com mais tarifas sobre os bens importados pelos EUA.

Recorde-se que este assunto é de extrema importância para todo o mundo devido ao impacto severo que está a ter nas bolsas, que têm estado a cair, em algumas sessões com estrondo, e também no sector energético, o que influi de forma clara e negativamente sobre a economia angolana porque é um dos principais factores responsáveis pelo mau período do petróleo nos mercados internacionais, em resultado da diminuição da procura.

Nos últimos dois anos, Trump e Jinping já se sentaram por diversas vezes à mesa e sempre com este assunto na agenda, mas, entre avanços e recuos, o mundo tem vindo a sentir as consequências, porque, como enfatiza o velho ditado africano, quando os elefantes lutam, quem sofre é o capim, e é isso mesmo que está a acontecer, como é o caso da economia angolana, que, com barril de crude em ciclo de perdas pesadas, vê aumentar as dificuldades em que está desde 2014.

Recorde-se que em causa está a exigência de Washington para que o Governo de Pequim dê garantias de que vai abrir as suas fronteiras a mais bens Made in USA, que vai travar o "roubo" de tecnologia norte-americana, que vai estancar a subsidiação estatal às empresas chinesas privadas, entre um vasto conjunto de "problemas" entre os dois países que Trump estima que se possa quantificar num "roubo" da China aos EUA de 500 mil milhões de dólares.

A China ripostou e aplicou igualmente dezenas de milhares de milhões de dólares em tarifas a bens oriundos dos EUA, e tem em cima da mesa a ameaça de impedir a exportação de "terras raras", minérios imprescindíveis à indústria de ponta norte-americana digital, neste caso, como resposta às sanções dirigidas à Huawei.

Se esta ameaça renovada de Trump vai ou não resultar, e em que sentido, ver-se-á já no fim deste mês, quando Jinping com ele se sentar, mais uma vez, à mesa, durante a Cimeira do G20 - os 20 países mais ricos do mundo -, que vai ter lugar no Japão, entre 28 e 29.

Depois deste encontro, a guerra comercial em curso pode observar desenvolvimento dramáticos, porque de um do outro lado, começam a surgir, como a generalidade dos analistas admitem, sinais evidentes de que este problema já está a sair do compartimento exclusivo das questiúnculas comerciais e é já uma das armas de arremesso de questões geopolíticas e geoestratégicas globais entre as duas maiores potências económicas e militares planetárias, sendo apenas comparável com a perigosa Guerra Fria do século XX entre os EUA e a União Soviética.

Impactos e consequências

O preço do barril de petróleo nos mercados internacionais deu um trambolhão imediato, para baixo do patamar dos 70 USD por barril no Brent londrino, e as bolsas mundiais entraram outra vez em modo de pânico com o anúncio, há cerca de duas semanas, do Presidente norte-americano sobre o esboço de ameaça de imposição de mais e gravosas taxas alfandegárias sobre produtos chineses.

Donald Trump, veio a público dizer que as coisas não estão a correr bem e que novas e gravosas taxas alfandegárias sobre as importações chinesas estão já em cima da sua mesa de trabalho para assinar.

Com este movimento estratégico, Trump pretende levar o seu adversário ao tapete, o que se traduziria por Xi Jinping aceitar as condições da Casa Branca, que passam, entre outras cedências, por uma maior abertura da economia chinesa e a aplicação de menos taxas sobre os bens exportados pelos EUA para o gigante asiático.

Mas o resultado pode ser outro, como advertem os analistas ouvidos pelas agências internacionais, com destaque para o possível total descarrilamento das negociações, abrindo uma guerra comercial total, o que, de imediato, seria uma tragédia para países com economias dependentes das exportações de matérias-primas, especialmente petróleo, como é o caso de Angola.