Mais de dez anos depois do arranque do processo negocial para construção do primeiro satélite angolano de comunicações, o AngoSat-1, o país e o mundo preparam-se para assistir ao seu lançamento, que será efectuado hoje, 26 de Dezembro, a partir da base de Baikonur, no Cazaquistão

O momento será transmitido em directo pela TPA, às 18h55, hora marcada para a colocação em órbita do AngoSat-1, que chega com a promessa de melhorar as comunicações e torná-las mais baratas, para além de ser apontado como uma forma de captar divisas para o país.

"A telefonia e os serviços de dados a nível nacional vão ter reflexo positivo. Mesmo nas zonas remotas, os seus serviços vão estar mais facilmente conectados aos grandes centros urbanos; os ganhos do AngoSat-1 serão transversais, a qualidade dos serviços da rádio e da televisão vão melhorar", explicou em Outubro passado Manuel Homem, que falava ainda na qualidade de director-geral do Instituto Nacional para o Fomento da Sociedade da Informação, cargo que deixou para ocupar o de Secretário de Estado para as Tecnologias de Informação.

Para além da perspectiva de inaugurar uma nova era nas telecomunicações e tecnologias de informação no país, o AngoSat-1 permitirá às operadoras nacionais pagar em kwanzas os custos pela utilização do satélite, em vez de recorrerem ao estrangeiro - como até agora -, circunstância que obriga ao desembolso de divisas, e consequente agravamento dos preços.

"A possibilidade de pagarmos os serviços do AngoSat-1 em kwanzas vai ter um grande impacto nos preços dos serviços prestados", antecipa Humberto Mbote, director de relações institucionais da Unitel.

A vantagem é igualmente destacada pelo patrão da Sistec.

"Todos os operadores poderão pagar os serviços em kwanzas. Tanto quanto sabemos, os preços a serem praticados serão muito competitivos e existe ainda a possibilidade de o país obter divisas devido à demanda no mercado", lembra Rui Santos.

O aproveitamento do AngoSat-1 como fonte alternativa ao petróleo para captar moeda estrangeira para o país decorre do potencial de atracção de operadores internacionais, tendo em conta que a cobertura do satélite inclui não apenas o continente africano, mas também parte da Europa.

"As condições que o nosso satélite oferece são muito boas, competitivas com os satélites internacionais, e estaremos em condições de fornecer todo o tipo de serviços", assinalou recentemente, em entrevista ao Novo Jornal, Diogo de Carvalho, PCE da Infrasat.

Segundo o responsável, é também expectável "ter operadores internacionais, porque um dos grandes objectivos do AngoSat é fazer a retenção de divisas e atrair divisas para o país".

Diogo de Carvalho alerta contudo que o satélite não entra logo em funcionamento, sendo necessário realizar cerca de três meses de testes.

Mas as previsões são animadoras.

"Temos já muita reserva de banda por parte de clientes nacionais e estrangeiros. E é praticamente seguro que quando lançarmos o satélite venham a ser nossos clientes, porque já pagaram inclusive uma caução".

Nos planos do Governo desde 2006

O AngoSat-1 é a denominação dada ao primeiro satélite angolano geostacionário de comunicação, parte integrante do projecto AngoSat, que resulta de uma iniciativa presidencial decorrente da resolução n.º 2/06, de 11 de Janeiro, do Conselho de Ministros.

A novidade começou a ganhar forma em 2009, com a assinatura de um contrato entre Angola e Rússia para a construção, lançamento e operação do AngoSat-1, projectado para um período de vida útil de 15 anos.

O satélite tem uma estrutura dividida em dois módulos: o módulo de serviço ou plataforma universal espacial e o módulo de comunicação, ou seja, a carga útil.

O primeiro módulo é uma estrutura onde se encontram os subsistemas que permitem a operação autónoma e o controlo do satélite. Dentro dessa estrutura encontram-se o controlo de bordo, sistema de propulsão, sistema térmico e sistema eléctrico.

O segundo módulo consiste no hardware e software que garantem a execução da missão, permitindo que possamos ter comunicação a nível de Internet, televisão, radiodifusão e telefonia.

Em termos de gestão, o AngoSat-1 também terá duas partes: o Centro de Emissão e Controlo de Satélite, na Funda, controlado por técnicos do Gabinete de Gestão de Projectos Espaciais, e a comercial, sob responsabilidade da Infrasat.

"Nós, Infrasat, vamos ser os revendedores exclusivos para todos os clientes. E no Centro de Emissão e Controle de Satélite é onde o AngoSat vai ser controlado, ver as condições climatéricas, correcções que devem ser feitas... O satélite deve ser monitorado 24 horas por dia durante o seu tempo de vida", explicou Diogo de Carvalho, da Infrasat, na entrevista ao Novo Jornal.

Investimento de mais de 400 milhões de dólares

O investimento global previsto para o AngoSat-1 ultrapassa os 400 milhões USD, incluindo 327 milhões USD para criação da infra-estrutura tecnológica, 25 milhões USD para a criação de instalações próprias em Angola e 50 milhões USD para a gestão do projecto.

De acordo com o ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, José Carvalho da Rocha, o Estado prevê recuperar esse montante em pelo menos dois anos.

"Neste momento, já temos reservada cerca de 40 por cento da capacidade do Angosat e nós vamos continuar a fazer o "marketing" para continuarmos a aumentar essa reserva", disse o governante, citado pelo Jornal de Angola.

José Carvalho da Rocha adiantou ainda que "as nossas operadoras, todas juntas, para poderem prestar o serviço de telefonia móvel e outros, alugam elemento espacial em outros satélites, que dominam a nossa região", gastando uma média mensal entre 15 a 20 milhões de dólares.

O AngoSat-1 foi construído por um consórcio estatal russo, e o seu lançamento será feito com recurso ao foguete ucraniano Zenit-3SLB, num processo que envolve igualmente a empresa estatal espacial da Rússia (Roscosmos).