Segundo comunicado publicado no site da Sonangol, o entendimento para o efeito foi restaurado na semana passada, num encontro ocorrido à margem da Conferência de Tecnologias Offshore em Houston, Texas, Estados Unidos da América, entre a delegação da Sonangol e uma comitiva da DSME, ficando definidos os mecanismos a utilizar para o abate da dívida.

O presidente do Conselho da Administração (PCA) da Sonangol, Carlos Saturnino, acordou os mecanismos a accionar pela petrolífera nacional visando o abate da dívida com a empresa sul-coreana de forma a que os navios-sonda entrem em funcionamento no próximo ano.

Em 2016, aquando de uma visita do Presidente da DSME a Luanda, a Sonangol tinha estabelecido um calendário para o pagamento da dívida, que consistia no avanço de 800 milhões USD no momento da entrega dos equipamentos e os restantes - cerca de 400 milhões - a ser liquidados em acções.

Este acordo, tal como o inicial, de 2012, quando os navios-sonda foram encomendados, não foi cumprido, estando agora em cima da mesa uma nova modalidade, embora a Sonangol não tenha avançado esses novos termos.

Dois navios-sonda, uma nova oportunidade

Os dois navios, construídos sob encomenda da Sonangol, deverão ser peças-chave na estratégia da petrolífera que prevê, para 2019, o recrudescimento dos projectos de desenvolvimento e exploração petrolífera, tendo Carlos Saturnino recebido as manifestações de interesse da ENSCO em recorrer aos serviços destas duas unidades de prospecção.

Com a entrada em funcionamento dos dois navios-sonda construídos pela DSME, a Sonangol abre uma janela de oportunidade para lidar com o desinvestimento na área da prospecção pelas multinacionais a actuar no offshore angolano, motivado pela crise petrolífera de 2014, que levou o barril a preços muito baixos, chegando aos 29 USD em Fevereiro de 2016, afastando-as de novos investimentos na área.

Um dos grandes problemas que a indústria petrolífera nacional enfrenta actualmente é o relativamente elevado custo da produção, que, apesar de não haver números exactos, rondará os 15 dólares por barril, apesar de a Sonangol ter adiantado que tinha conseguido reduzir os custos de produção para menos de 8 USD/barril nos anos de 2015/16.

Apesar de o país ter conseguido reduzir substancialmente estes custos, a verdade é que o Médio Oriente, onde estão alguns dos maiores produtores mundiais, como a Arábia Saudita (1º) e o Irão (4º), contando ainda com o Iraque (5º), representando a região mais de 30 mbpd do total global à volta dos 92 mbpd, apresentam-se com muito menos custos de produção para as multinacionais do sector.

Esses custos, por vezes inferiores a 5 USD/barril, impõe que, num tempo de grande volatilidade nos preços, e com tendência para descer, devido às grandes mudanças no perfil do consumo - como exige o combate ao aquecimento global/alterações climáticas -, se torne evidente a preferência dos gigantes mundiais para investirem, mesmo que, como é o caso dos dias que correm, os preços estejam a subir com algum vigor e bem acima dos 70 USD/barril.

É neste confronto que Angola, que surge no mapa dos valores de custo/produção com dificuldades de ser competitiva neste domínio, perde e esteja a assistir a um continuado desinvestimento nos últimos quatro ano, podendo, neste cenário, a chegada dos dois navios-sonda da DSME constituir uma forma de resistência e manter acesa a chama da produção nacional para o futuro, com a eventual descoberta de novas jazidas, renovando o interesse das multinacionais que, devido à crise dos últimos anos, deixaram a possibilidade Angola em stand by.

O caso Cobalt

Noutro encontro, Carlos Saturnino recebeu a direcção da Cobalt, com quem a Sonangol tratou da consolidação do compromisso firmado no sentido da transferência dos direitos participativos nos Blocos 20 e 21 para a concessionária angolana.

No âmbito do mesmo processo, a Cobalt deverá igualmente iniciar o processo de passagem de dados geográficos e geofísicos à Sonangol.

A Sonangol comunicou em Dezembro do ano passado a assinatura de um acordo amigável com a norte-americana Cobalt, à qual pagará 500 milhões de dólares pelos direitos em dois blocos petrolíferos, dando assim por terminada a disputa judicial que as duas empresas mantinham.

Em comunicado enviado às redacções, a petrolífera estatal angolana, presidida desde Novembro por Carlos Saturnino, declara que "as administrações das duas petrolíferas assinaram um acordo para resolução de todas as disputas entre as duas companhias", que permitirá também a transferência para a Sonangol do interesse participativo da Cobalt nos blocos 21/09 e 20/09, ao largo de Angola, pelo valor de 500 milhões de dólares.

Esta deliberação, sobre um processo relativo a alegados incumprimentos contratuais da petrolífera estatal angolana, estava, à época, ainda sujeita à aprovação pelo Tribunal de Falências dos Estados Unidos, explicava a Sonangol no mesmo documento.

Em causa esteve uma discórdia que se arrastava desde a administração de Isabel dos Santos na Sonangol, prevendo este acordo que a petrolífera angolana pagava, até ao dia 23 de Fevereiro de 2018, um valor não reembolsável de 150 milhões de dólares.