Por volta das 10:25 de hoje, o barril de Brent de Londres, onde Angola observa diariamente o valor médio das suas exportações petrolíferas, estava a ser vendido a 62,45, menos 1,20% face ao fecho de quarta-feira, onde a matéria-prima já estava fragilizada por esta mesma razão.

Isto, apesar de, normalmente, num cenário como o actual, o barril devesse estar em alta na sequências dos episódios das últimas semanas, como a crise EUA-Irão, o fim anunciado da guerra comercial EUA-China e a guerra que se intensifica na Líbia, país que foi obrigado a encerrar parte da sua infra-estrutura petrolífera, retirando dezenas de milhares de barris por dia de circulação.

A perda de vigor da matéria-prima só sucede porque, efectivamente, as notícias oriundas da China são preocupantes, como, por exemplo, a 3ª maior cidade da China, Wuhan, com 11 milhões de habitantes, estar já, com mais duas grandes cidades próximas, encerrada em quarentena pelas autoridades chinesas, de onde ninguém sai e para onde ninguém entra, de forma a estancar o potencial de transmissão do vírus.

Vírus este que já chegou aos EUA, ao Japão, Tailândia, Coreia do Sul, e às grandes cidades chinesas de Pequim, Xangai, Macau e Hong Kong, tendo, desde Dezembro, onde foi descoberto e identificado como sendo da família coronavírus, feito pelo menos 17 mortos e mais de 1.000 casos confirmados, segundo dados das primeiras horas da manhã de hoje, fazendo em tudo lembrar o início da pandemia de SARS (Síndrome Respiratório Agudo Grave), também iniciada na China, que fez centenas de mortos em todo o mundo durante os anos de 2002 e 2003.

Apesar disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) que esteve reunida, com os seus principais peritos, durante todo o dia de quarta-feira, para decidir o que fazer, optou por não lançar um alerta global, havendo notícias de que a decisão não foi por unanimidade, mantendo, todavia, o alerta inicial para os hospitais de todo o mundo e aos países para adequarem as medidas preventivas às suas realidades.

Hoje os peritos da OMS voltam a reunir de emergência em Genebra e em cima da mesa vão estar dados de organismos internacionais que apontam para a ideia de que a China está a escamotear parte da verdade e que os casos de mortes e contaminações são já muito superiores aos oficiais.

Os coronavírus distinguem-se pelo seu forte impacto no sistema respiratório, provocando desde simples constipações a pneumonias letais e as atenuantes resultam de terem um comportamento de dispersão via contágio humano-a-humano ou de animal-a-humano. O mais grave é o humano-a-humano e é o caso já confirmado deste.

O seu impacto na economia chinesa tem, como sucedeu em 2002 com o SARS, fonte a forte diminuição das deslocações de e para a China, as exportações tendem a diminuir de forma vertiginosa em tudo que seja produtos alimentares e a economia interna do gigante asiático, por isso, ressente-se de forma substancial, o que se traduz de imediato numa baixa do consumo de crude pelo país que lidera a lista dos maiores importadores mundiais.

E os sinais de que algo assim está a suceder são os milhares de voos cancelados de e para Wuhan, comboios deixaram de apitar nas estações da cidade e as estradas e auto-estradas estão a ser bloqueadas por milhares de agentes da polícia, de forma a manter "fechados" mais de 11 milhões de pessoas porque foi num dos mercados alimentares da urbe que o vírus surgiu e iniciou este alastramento letal..

Alguns sites especializados e as agências de notícias estão a publicar análises de especialistas que já admitem que se esta epidemia crescer para uma pandemia similar à de 2003, o barril de crude poderá cair mais de 5 por cento em poucos dias.

O que, a suceder, poderá ser um rombo gigante nas economias mais dependentes das exportações de petróleo, como é claramente o caso da angolana.

E o timing para este fenómeno não poderia ser pior, porque com o Ano Novo lunar a chegar, a 25 de Janeiro, centenas de milhões de chineses viajam internamente e do exterior para a China em visitas às famílias, naquela que é a maior migração não forçada da humanidade, que tem uma importância relevante para a economia interna chinesa.

Mas, para além disso, a gigantesca "peregrinação" do Ano Novo lunar é também um acrescido factor de risco porquanto aumenta exponencialmente o risco de contágio e de dispersão para outros países.

Esse risco, como os organismos internacionais já advertiram, é maior em países com grandes comunidades chinesas, como é o caso de Angola, onde vivem cerca de 250 mil chineses, sendo semelhante o caso de países africanos como a África do Sul, a Nigéria, entre outros.