No mesmo dia em que a Itália disponibilizou 300 mil euros para apoiar a intervenção da ONU na região do Kasai e ajudar os cerca de 40 mil congoleses que já se refugiaram em Angola, as Nações Unidas divulgaram que o país expulsou 8.000 congoleses.

A informação - que não especifica as razões para essa expulsão - consta do relatório humanitário divulgado ontem, 24, onde a ONU lamenta que o seu pedido de 64 milhões de dólares para gestão desta crise humanitária continue a ser "pobremente financiado".

Para além dessa verba, no início de Maio o Alto -Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) apelou a uma ajuda de 6 milhões de dólares para socorro dos milhares de congoleses que têm saído da RDC para Angola para fugir à violência.

Os ataques indiscriminados sobre as populações do Kasai que se opõem ao terror espalhado pelas milícias do antigo chefe tribal Kamwina Nsapu e sobre as instituições do Estado congolês já provocaram mais de 400 mortos, um milhão de deslocados, dos quais quase 40 mil procuraram refúgio em território angolano, na Lunda Norte.

Face a este cenário de terror, Zeid Al Hussein, ACNUR, depois de terem surgido suspeitas de que as milícias de Kamwina Nsapu estarão a ser instrumentalizadas politicamente com o objectivo de criar uma justificação para novo adiamento das eleições que terão necessariamente de ser realizadas até ao final do ano, quer ver no terreno uma investigação patrocinada pela comunidade internacional sob orientação das Nações Unidas.

Recorde-se que as eleições gerais na RD Congo deveriam ter sido realizadas em Novembro de 2016, nas quais o Presidente Joseph Kabila não se poderia candidatar a um terceiro mandato, tendo, depois de confrontos em Kinshasa que fizeram centenas de mortos, sido assinado um acordo com a oposição que impõe a realização de eleições até Dezembro deste ano sob ameaça do regresso da violência à capital congolesa.

Com o eclodir dos confrontos no Kasai, membros do Governo de Kabila chegaram a admitir que não estavam reunidas as condições mínimas para realizar eleições, ao que a oposição respondeu negando essa pretensão, tal como a comunidade internacional em uníssono, à excepção de alguns países vizinhos, como foi o caso de Angola, que manteve sempre uma posição de relativa neutralidade, mas fazendo sistemáticas declarações amistosas para o Governo de Kinshasa, apelando, todavia, sempre ao diálogo e à contenção das partes.