A monarquia saudita procurou, inicialmente, distanciar-se do assassinato de Khashoggi, colunista do The Washington Post e exilado nos EUA há dois anos devido à perseguição de que era alvo pelo regime de Riade, falando de um crime acidcental, depois optou por assumir que um grupo de "renegados" terá actuado por conta própria, assumindo que o encobrimento do crime fora um erro "tremendo" e um "incómodo" para o reino.

Mas a pressão internacional, com o Presidente turco na linha da frente, e o norte-americano, Donald Trump, empurrado pelas circunstâncias a não tirar o pé do acelerador acusatório, com a União Europeia, a China e a Rússia a pedirem explicações públicas e profundas a Riade, levou as autoridades sauditas a aproximarem-se de uma situação em que elementos da corte do Rei Salman bin Abdulaziz e do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman poderão ter de ser sacrificados para salvar a honra do reino de Saud.

Hoje, num discurso que gerou muitas expectativas, proferido no Parlamento turco, embora não tenha ido tão longe quanto prometera, Erdogan (na foto, com o Rei Salman, num encontro recente mas antes do crime) voltou à carga e encostou de novo a Casa de Saud às cordas, exigindo que os 18 integrantes do "comando" que matou Jamal Khashoggi sejam julgados na Turquia, retirando qualquer espaço para que a Arábia Saudita faça o julgamento em casa, escolhendo as cabeças para fazer rolar.

Isto, apesar de a agência oficial de notícias saudita ter divulgado um despacho sobre a comunicação do conselho semanal do Governo de Riade, onde garante que foram "tomadas as medidas exigidas para descobrir a verdade e punir os implicados na morte, falhando totalmente nas suas responsabilidades", sublinhando que esse julgamento abrangera "todos os que se revelarem envolvidos, independentemente de quem sejam".

A par desta disponibilidade, a mesma agência noticiou que os dois principais governantes do país o Rei Salman bin Abdulaziz e o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman vão receber um filho e um irmão de Jamal Khashoggi.

Esta exposição de Riade à culpa, apesar da tentativa de libertar os seus principais líderes das malhas da pressão internacional, não parecem ter sido suficientes para o Presidente da Turquia baixar as armas e apontar a mira para as mais altas instâncias sauditas, falando hoje

No entanto, começam a surgir algumas brechas na malha que aperta o regime saudita, proveniente dos EUA, pela boca do conselheiro de Donald Trump, e seu genro, Jared Kushner, que disse que tinha exigido transparência à corte de Riade mas, ao mesmo tempo, lembrando que a Arábia saudita é um "muito importante aliado" de Washington naquela fulcral região do mundo para os interesses norte-americanos.

Já antes, Trump tinha dado uma no caro e outra na ferradura ao afirmar que se tinha tratado de um crime muito grave e que teria consequências severas, mas deixando entender que o Rei saudita lhe tinha dado garantias de que não esteve por dentro da macabra operação.

Agora, na tarde de ontem, Trump, acusou Riade de ter produzido o "pior encobrimento de um cride de sempre", considerou toda a operação orquestrada pelos governantes da Arábia Saudita "um fiasco total" e condenou tanto o encobrimento como o crime, acabando por informar os jornalistas de que tinha pedido ao Congresso "recomendações" para possíveis respostas à corte saudita.

Recorde-se que é hoje tido como certo, através de fontes dos serviços secretos turcos citadas pela imprensa daquele país, que o corpo de Jamal Khashoggi foi esquartejado em 15 partes e escondido numa região remota da Turquia.

Segundo o Presidente Erdogan, na síntese que hoje fez sobre o que sucedeu naquele dia 02 de Outubro, o assassinato de Jamal começou a ser orquestrado antes, a 28 de Setembro, quando foi ao consulado pela primeira vez.

Erdogan explicou ainda que o serviço de vigilância vídeo do consulado foi desligado antes da chegada do jornalista ao local, revelando a premeditação, e que alguns dos membros do comando saudita foram depois para uma região remota do país.

Mas o mais importante foi dito pelos jornais próximos do Governo de Ancara, que, citando fontes da "secreta" turca, adiantaram que um dos membros do comando que matou Jamal é muito próximo do príncipe herdeiro saudita e que lhe terá ligado por quatro vezes a partir do consulado no dia em que o jornalista foi morto.

O líder turco exigiu ainda saber onde foi escondido o corpo e que "de cima a baixo" sejam identificados todos os responsáveis por este "crime bárbaro", mas não citou o nome do príncipe herdeiro bin Salman, apontado por responsáveis turcos, citados sob anonimato pela imprensa próxima do seu Governo, como o mandante do crime.