Argel e as grandes cidades argelinas estão submergidas em sucessivas manifestações contra a possibilidade de Buuteflika, no poder desde 1999 e com um estado de saúde em declínio, se candidatar a um 5º mandato.

Aos 82 anos e num estado de saúde que muitos analistas consideram incapacitante para exercer o cargo de Presidente da República, Abdelaziz Bouteflika prepara-se para voltar a candidatar-se à Presidência.

As eleições estão marcadas para 18 de Abril e os deputados dos seis partidos da oposição - FFS, RCD, MSP, PT, Frente Futuro e El Bina - deixaram as bancadas da Assembleia Nacional para se juntarem ao protesto da rua e para marcarem a sua discordância com um pacote legislativo de autoria governamental que estava prestes a ser votado.

Desde 1999 no poder, Bouteflika, que em 2013 sofreu um grave Acidente Vascular cerebral (AVC), mostra-se, como as imagens televisivas não escondem, progressivamente incapacitado fisicamente - desloca-se em cadeira de rodas com uma postura claramente rígida e manifestar também uma eventual incapacidade mental - e isso não agrada aos argelinos que diariamente vão paras as ruas exigir que se retire.

O Presidente é ainda visto como estando refém de um conjunto de pessoas ligadas ao poder que o estarão a usar para manter as rédeas do poder em Argel, o que significaria, a comprovar-se que assim é, que Bouteflika estaria na condição de marioneta nas mãos de terceiros, embora, no início de Fevereiro, os quatro partidos que sustentam a coligação no Governo - FLN, RND, TADJ e MPA - anunciaram o seu apoio à recandidatura.

Face a este cenário de crescente indignação manifestada nas ruas das grandes cidades argelinas, e com uma progressiva agressividade das forças de segurança na co0ntenção dos manifestantes, a comunidade internacional começa a exigir ao poder de Argel que aceite que o povo exerça o seu direito à manifestação., com os Estados Unidos da América (EUA) na linha da frente dessas exigências.

Apesar de as manifestações estarem proibidas na Argélia há quase duas décadas, as pessoas têm ignorado essa proibição e as autoridades têm mostrado flexibilidade no cumprimento da lei para evitar que esta vaga de manifestações progrida para uma avalanche de violência.

Isto, num país que durante anos, no final do século XX, viveu sob o terror de grupos radicais islâmicos, como a FIS (Frente Islâmica de Salvação), o mais importante, que chegou a ganhar as eleições de 1991, tendo mesmo ocorrido uma situação de guerra civil nos anos seguintes, depois de um golpe militar forjado para impedir que o país ficasse sob o jugo de radicais islâmicos que pretendiam governar sob a égide da Sharia.

Agora, depois de quase duas semanas de sucessivas manifestações, o mundo volta a olhar com receio pela evolução política no mais extenso país africano e um dos maiores produtores de petróleo, com uma evidente importância geoestratégica no norte de África, até porque se receia que, com as recusas do regime em aceitar as exigências dos manifestantes, claramente democratas e a favor de maior liberdade, pelo meio se possam estar a insinuar novamente grupos de radicais com objectivos menos pacíficos.

A candidatura de Abdelaziz Bouteflika, por causa do seu estado de saúde, que o levou a um internamento na suíça, foi entregue oficialmente ao Conselho Constitucional pelo seu director de campanha quando a lei eleitoral exige que seja o seja o próprio a formalizar a candidatura.

Face a este crescendo dos protestos, o Presidente argelino prometeu, numa declaração escrita, porque o mesmo não é visto em público há já algum tempo, realizar, se for eleito, um conjunto de medidas visando as reformas políticas que as camadas mais jovens da sociedade exigem há anos, incluindo uma nova Constituição, cujo conteúdo será sujeito a um referendo.

Mas, estranhamente, Bouteflka, promete nesta declaração que ficará pouco tempo no poder, que reunirá de imediato o Conselho nacional para convocar novas eleições às quais não concorrerá.